São Paulo, domingo, 27 de julho de 1997
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Educar filhos e poupar são prioridades

LUCIA MARTINS
DA REPORTAGEM LOCAL

Querer poupar e investir em educação são duas novas aspirações dos paulistas e refletem as mudanças econômicas sofridas pelo país desde o Plano Real, como a estabilidade do real e o fim da inflação.
Essa é a opinião de sociólogos e economistas ouvidos pela Folha sobre o resultado da pesquisa Datafolha. Segundo o estudo, se ganhassem mais, 35% dos paulistas poupariam todo o extra. Outros 35% se dividiriam entre colocar o filho em uma escola melhor (18%) e fazer cursos (17%).
"A sociedade brasileira está passando por uma mudança. As pessoas estão começando a se preocupar com outras coisas, além do consumo imediato de eletrodomésticos", diz o sociólogo Sérgio Abranches, 43, diretor da SDA (Sócio Dinâmica Aplicada), uma empresa que faz análises de comportamento da sociedade.
Segundo Abranches, antes do Plano Real as pessoas nunca planejavam o seu consumo -mesmo que tivessem que se submeter a altos juros- porque tudo mudava rápido. "Quando as pessoas tinham dinheiro, elas compravam na hora. Agora, elas esperam."
A outra consequência da estabilização, diz ele, é a "consciência de que é preciso preparar melhor os filhos para o mercado". "A gente vê essa tendência em todas as pesquisas. O mercado está mais seletivo, e todos notaram que a única chance de progresso pessoal é a educação", afirma.
Para Ana Cristina Gonçalves da Costa, economista da MCM, uma empresa de consultoria macroeconômica, a preocupação com educação está ligada à globalização da economia. "É sintomático. O mercado está se abrindo e, por isso, o nível de concorrência é muito grande. A população já percebeu que precisa oferecer uma mão-de-obra mais especializada ou não terá chance de conseguir um bom emprego", afirma.
Segundo a economista, essas novas aspirações do paulistano estão surgindo em uma "2ª fase" da estabilização da economia. "Na primeira fase, houve um boom de consumo. As faixas C e D vieram para o mercado e começaram a consumir. A classe média também consumiu mais. Agora, eles começaram a pensar no futuro e nas exigências do mercado."
A pesquisa mostra que trocar o carro ou comprar mais comida foram as opções escolhidas por 8%, e comprar roupas novas ficou apenas com 2%.
O sociólogo do Idesp (Instituto de Estudos Econômicos, Sociais e Políticos) Amaury de Souza concorda. "Estamos entrando na segunda parte de um ciclo. A fase de euforia do consumo acabou, e o foco agora é investir no futuro."
Para ele, isso fica bem claro quando se analisa os resultados do Datafolha por classe social. A poupança é prioridade para 36% das pessoas com renda até dez salários mínimos, para 34% com renda de 10 a 20, e para 36% com mais de 20. "Você vê com clareza que o desejo de poupar é de todos."
Já colocar os filhos na escola foi a opção mais escolhida por 21% dos que ganham até dez mínimos, por 15% dos que recebem de 10 a 20 e por 13% dos que têm renda superior a 20. "As famílias mais pobres querem colocar os filhos em escolas melhores porque essa é a única porta."

Metodologia - A pesquisa Datafolha é um levantamento por amostragem estratificada por sexo e idade com sorteio aleatório dos entrevistados. O conjunto da população acima de 16 anos da cidade de São Paulo é tomada como universo da pesquisa e dividido em dois subuniversos distintos: região metropolitana e interior. Nesse levantamento, realizado nos dias 1 e 2 deste mês, foram entrevistados 2.157 pessoas em 53 municípios. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos dentro de um intervalo de confiança de 95%. Isto significa que, se fossem realizados cem levantamentos com a mesma metodologia, em 95, os resultados estariam dentro da margem de erro prevista

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