São Paulo, domingo, 27 de julho de 1997
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Crise do cacau desemprega 250 mil na BA

LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM ITABUNA (BA)

Pelo menos 250 mil pessoas que trabalhavam na lavoura cacaueira no sul da Bahia foram demitidas nos últimos sete anos em função da crise que atingiu a cultura a partir do final de 1989.
Foi nessa época que começou a aparecer nas plantações da região o fungo "Crinipellis perniciosa", causador da doença conhecida como vassoura-de-bruxa. A praga leva ao apodrecimento das folhas e frutos dos cacaueiros e foi a grande responsável pela forte queda na produção do cacau no sul da Bahia.
No início da década de 90, a atividade chegou a empregar diretamente 390 mil trabalhadores na região. Hoje, só mantém 140 mil pessoas.
Apesar da decadência da cultura na Bahia, o cacau ainda é o principal produto agrícola do Estado, que é responsável por 85% da produção nacional.
Os cerca de 35 mil produtores do sul da Bahia estão espalhados por 92 municípios, dos quais 62 deles têm o cacau como principal fonte de renda.
Dados do CNPC (Central Nacional dos Produtores de Cacau) mostram que existem na região 29.320 propriedades com plantações de cacau.
Dívidas
Cerca de 12 mil produtores estão hoje descapitalizados e têm débitos com bancos ou com exportadores e industriais.
"O valor das dívidas atinge US$ 250 milhões", afirma o presidente do CNPC, Wallace Setenta.
Segundo ele, os desempregados do cacau foram para as favelas de grandes centros urbanos, como São Paulo e Salvador. "A maioria sobrevive de bicos e do trabalho informal."
Produção
A demissão em massa das pessoas que trabalhavam nas lavouras é proporcional à queda da produção do cacau.
Na safra 95/96, por exemplo, foram colhidas 229 mil toneladas do produto. A previsão dos produtores para este ano é colher aproximadamente 156 mil toneladas.
"A cada safra a situação dos produtores piora um pouco mais", diz Wallace Setenta.
Área perdida
Conforme levantamento do CNPC, 150 mil dos 615 mil hectares de cacau plantados no sul da Bahia já estão completamente perdidos. "Não há investimentos que possam recuperar essa área."
Outros 450 mil hectares estão contaminados, em menor grau, pela vassoura-de-bruxa.
"Como os fazendeiros não querem mais investir no cacau, em pouco tempo toda a área estará completamente perdida", afirma o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Itabuna (429 km ao sul de Salvador), Aldenis Meira Santos.
Pelos cálculos de Wallace Setenta, a vassoura-de-bruxa impediu que, nos últimos sete anos, 637 mil toneladas de cacau fossem colhidas na Bahia. "Isso significa um prejuízo de US$ 1 bilhão."
Exterior
No mercado internacional, o preço da tonelada de cacau despencou. Enquanto no final dos anos 70 a tonelada era cotada em US$ 4.700, atualmente vale menos de um terço disso, cerca de US$ 1.500.
Além de optar pelas demissões, os produtores de cacau também deixaram de lado o combate à vassoura-de-bruxa. Na safra 89/90, os produtores combateram a doença em 206 mil hectares e adubaram outros 124 mil. Em 95 (último ano da estatística feita pelo CNPC), a vassoura-de-bruxa foi controlada em apenas 4.000 hectares e os fazendeiros utilizaram adubos somente em seis hectares.

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