São Paulo, domingo, 27 de julho de 1997
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Educação: a urgência da reviravolta

ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES

O IBGE acaba de publicar o relatório de 1996. É o retrato do Brasil. O documento procurou captar os primeiros impactos do Plano Real ao revelar um razoável aumento de renda das populações mais pobres no período de 1994-95 e melhoria do seu padrão de consumo.
Na primeira folheada, parei na parte de educação. Notei que no Censo de 1980 havia 32.731.347 pessoas que não sabiam ler e escrever e, em 1991, 32.768.578 -ou seja, 37.231 a mais. O tempo passou e os analfabetos aumentaram.
É triste revelar isso ao resto do mundo. Nas cidades, os analfabetos saltaram de 15.682.742 para 18.427.640 -cerca de 2,7 milhões a mais.
É claro que a população cresceu no período e que, em termos relativos, melhoramos. Também é claro que as exigências educacionais são muito mais altas do que há dez anos. Hoje em dia, considera-se alfabetizado quem sabe ler, interpretar e usar os conhecimentos estampados em um manual de instrução.
Isso não pode ser feito pela maioria da nossa população. Mais de 50% dos brasileiros (dez anos ou mais) possuem, no máximo, quatro anos de má escola.
O problema da qualidade é gravíssimo. O rendimento médio das crianças do primeiro grau em matemática é de apenas 56% na primeira série, 29% na terceira e 24% na quinta. Do pouco que é ensinado, uma parcela mínima é aprendida!
Os dados educacionais projetam a pobreza do futuro. Pouco adianta festejar o crescimento do consumo de eletrodomésticos se a nossa população está despreparada para sustentar a competição cerrada que vem pela frente.
O governo faz um grande esforço, sem dúvida. Mas o problema é grande demais para os governantes. A participação dos governados é essencial.
A sociedade precisa abraçar essa causa e agir de forma objetiva, com mais realização e menos falação.
Temos de implantar neste país uma mobilização sustentada para que todos os que podem ensinar ensinem aqueles que nada sabem.
Para tanto, serão necessários recursos e gerenciamento. Por que não criar estímulos em grande escala parecidos com os da Lei Rouanet? Educação não é cultura?
Isentar parcialmente de impostos os que investirem pesadamente em educação não me parece uma idéia descabida em um país que precisa queimar etapas na preparação do seu povo.
No campo do gerenciamento, acredito mais nas ações executadas em regime de autogoverno do que na multiplicação de burocracias, fiscais e corruptores.
A execução técnica, é claro, teria de ser feita por quem é do ramo. Mas os que se dispõem a ajudar nessa área teriam de investir não só dinheiro, mas, sobretudo, tempo de administração.
O Brasil precisa enfrentar esse desafio. Só assim podemos pensar em reduzir a pobreza, melhorar as condições de vida, diminuir a violência e estabelecer um mínimo de respeito entre as pessoas.

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