São Paulo, domingo, 27 de julho de 1997
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Uma racha na muralha

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Inevitável que a turma dos "sem" acabasse numa frente ampla que está dando dor de cabeça ao governo e defensores da ordem. Sem-terra, sem-teto, sem-escola, sem-salário e até mesmo sem-iate -como sugeriu o Elio Gaspari-, todos se reconhecem na necessidade e se aglutinam na exclusão. Nada demais que façam a marola.
Sinto falta de uma categoria que devia estar engrossando esses movimentos reivindicatórios. São os sem-vergonha. Numerosos, bem situados no poder, eles fazem parte do ministério, das cúpulas partidárias, das lideranças do Congresso, do empresariado.
Semanalmente, são espinafrados pela dupla Motta-Cardoso num joguinho primário de ofensas escancaradas e desculpas constrangidas -e nenhum deles se demite, nenhum vai engrossar a turma do Rainha, marchando pelas ruas e pedindo a restauração da dignidade perdida.
Impressionante como homens de maior idade, com mulher, filhos, netos, amigos, crédito na praça, continuam com a mesma cara depois de saber que são indesejáveis nos postos que ocupam, que funcionam como calamidades impostas pelo fisiologismo político.
Não houve um único pedido de demissão e o que houve deixou mal o jovem Magalhães. Ele tem idade e discernimento para pedir o boné, ir para a rua juntar-se ao Rainha e liderá-lo. Acho inclusive que Luís Eduardo perdeu um bonde: com o quadro sucessório estagnado, apontando para mais um round insosso entre FHC e Lula, a presença dele no páreo podia dar caldo.
Teria um bom cacife: o homem que soube dizer não ao presidente da República e dar um basta ao Serjão.
O resto seria uma questão de tempo e de modo. O fato de ser do PFL não o prejudicaria. Afinal, FHC é mais pefelista do que tucano e ganhou no primeiro turno. Há uma racha na muralha do poder. Rainha nem chegará perto. Luís Eduardo já está dentro.

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