São Paulo, domingo, 27 de julho de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Mulheres preferem se consultar com homens

MARIANA SGARIONI

O preconceito em relação às mulheres na medicina não se restringe apenas ao meio acadêmico. Muitas mulheres se negam a marcar consultas com médicas, ou por não confiarem em sua competência, ou até mesmo por acharem que elas são insensíveis às queixas de dores mais comuns.
"Eu nunca me tratei com mulheres, e olha que não sou machista", afirma Rosangela Prado, 50. "Nunca fui a nenhuma médica, mas acompanhei alguns tratamentos de perto, e elas me pareceram sem paciência, querem se livrar logo dos pacientes. Os homens são mais humanos, ouvem com mais atenção", diz Rosangela.
A estilista Luci Morsch, 43, também diz confiar mais nos homens, na sua opinião, mais atenciosos e delicados do que as mulheres, principalmente os ginecologistas.
Luci conta que, em toda sua vida, só passou por duas médicas e pretende não repetir a experiência. "Uma vez, uma ginecologista disse que minhas reclamações de dores eram pura frescura, pois, como mulher, ela sabia exatamente o que eu estava sentindo", diz. Desse dia em diante, ela nunca mais se consultou com mulheres.
A psicóloga Julia Borba, 42, concorda com a estilista. "Quando tive minha primeira filha, a médica que acompanhou o parto chegou a dizer que as dores que eu estava sentindo eram suportáveis, pois ela tinha aguentado perfeitamente. Ela me tratou como um verdadeiro objeto só porque já conhecia a minha dor", conta.
Na segunda gravidez, Julia escolheu um médico para acompanhar o parto e "se sentiu muito mais segura". "Ele parecia acreditar mais no que eu dizia."
A experiência também serviu para reavaliar seu trabalho como psicóloga. "Mesmo que eu esteja atendendo uma mulher que seja muito parecida comigo, procuro não me colocar no lugar dela, pois as reações das pessoas são diferentes", diz Julia.
Para a jornalista Lana Côrtes Costa, 36, médicas de qualquer especialidade normalmente são frias e grosseiras.
"Talvez elas sejam estúpidas porque disputam mercado com os homens o tempo todo. Isso é uma bobagem pois quem perde são elas mesmas", acredita.
Sempre que se consultou com uma médica, Lana diz ter sido maltratada. Ela acha que os homens são mais cuidadosos, e as mulheres tratam os pacientes com desprezo. "A médica que deu a notícia que eu estava grávida foi dura e seca, como se estivesse falando de algo sem importância alguma. Outra vez, uma dermatologista ficou tentando me empurrar uma cirurgia desnecessária, só para ganhar mais dinheiro", diz.

Texto Anterior: Bisturi e batom
Próximo Texto: Apenas seis Nobel
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.