São Paulo, sexta-feira, 1 de agosto de 1997
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A República dos compadres

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Que notável demonstração de eficiência deu a polícia paulista ao recuperar, em apenas uma hora, um carro roubado. Mais: transcorridos outros 60 minutos, até os ladrões estavam presos.
Claro que é um detalhe absolutamente irrelevante o fato de o carro pertencer a Romeu Tuma Júnior. Claro que mais irrelevante ainda é o fato de Romeu Tuma Júnior ser delegado de polícia e ainda por cima carregar o sobrenome-símbolo da Polícia Federal, embora hoje seu pai seja senador da República.
Como disse o próprio Tuma Júnior, "a polícia investigou bem e deu sorte de achar documentos. Se o carro fosse de outra pessoa, seria achado no mesmo tempo".
É um alívio saber disso. Pena que não confira com os fatos. É só checar na própria polícia quantos carros roubados são recuperados e se há algum que o seja no prazo recorde de uma hora.
Difícil imaginar qual o maior escândalo: se a tremenda mobilização policial (80 homens, sendo seis delegados) para recuperar o carro do colega ou se a tentativa de Tuma de negar o óbvio.
Vamos ser francos: o Brasil só funciona na base do compadrio.
Não é só a polícia, não. Tudo fica mais fácil para quem conhece ou é parente de alguém bem situado em alguma repartição de cujos serviços se necessita.
Tanto faz se a repartição é pública ou privada. O pistolão quebra o galho em uma ou na outra.
Agora, pobre de quem tenta resolver problemas sem conhecer ninguém. A massa anônima começa por já nem dar queixa de furtos menores, porque sabe que não vai ser mesmo investigado. De roubo de carro ainda se registra queixa, mais para todos os efeitos legais do que por esperança real de reaver o veículo.
É profundamente eloquente que o episódio Tuma Júnior tenha ocorrido bem no meio da baita crise em que o aparelho policial está envolvido.

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