São Paulo, sexta-feira, 1 de agosto de 1997
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O CARRO DE TUMA

Os 9.173 habitantes da Grande São Paulo que tiveram seus carros roubados ou furtados no mês de maio certamente adorariam receber o mesmo tratamento dispensado ao delegado Romeu Tuma Jr. na apuração dos crimes de que foram vítimas.
O delegado teve seu Golf roubado à 1h30 de anteontem. Uma hora depois, o carro já havia sido encontrado e devolvido a seu proprietário. Por volta das 3h30, os três homens suspeitos de serem responsáveis pelo roubo foram localizados na favela Vietnã e presos.
Claro que, para obter tal sucesso, a polícia não utilizou os métodos de investigação que usualmente destina ao cidadão comum. Com o objetivo de encontrar seu Golf, Tuma mobilizou 80 policiais -30 da PM e 50 policiais civis, dos quais 6 delegados.
Contingente dessa magnitude só é utilizado em circunstâncias de extrema gravidade. Dois paralelos exemplificam, de forma cristalina, a desproporção entre o número de policiais empregados e o crime do qual o delegado Tuma foi vítima.
No lamentável massacre de 111 presos na Casa de Detenção, em 1992, o governo mobilizou cerca de 120 policiais militares. Contingente semelhante foi destinado à desocupação da fazenda da Juta, em São Paulo, no mês de maio, quando três sem-teto morreram em confronto com a Polícia Militar.
Qualquer pessoa que já teve seu carro roubado ou furtado na Grande São Paulo conhece a precariedade existente na investigação desses crimes. Não é incomum haver fila para realização do boletim de ocorrência. E o resultado está longe de ser satisfatório: entre os carros segurados, apenas metade é recuperada.
Tuma afirma que não recebeu qualquer tratamento privilegiado em razão do fato de ser delegado. Assim, a polícia teria adquirido, por algum efeito mágico, fantástica eficiência, e qualquer cidadão poderá reivindicar o empenho de 80 policiais na próxima vez que tiver seu carro roubado ou furtado.

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