São Paulo, domingo, 3 de agosto de 1997 |
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Até quando, São Paulo?
ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES Os leitores têm todo o direito de se queixar quando volto a um mesmo assunto.Acontece que o retorno ao tema decorre da persistência do problema. Refiro-me à imundície que campeia na cidade de São Paulo. Muita gente confunde pobreza com sujeira. Nada mais errado. As pessoas humildes são exatamente as que mais valorizam o asseio, a higiene e a limpeza. Você já notou como é generalizado o banho dos trabalhadores da construção civil depois de uma jornada de trabalho? Você já reparou como são bem areadas as panelas das donas-de-casa dos domicílios das periferias? Você já observou a brancura das camisas e blusas dos uniformes dos seus filhos? O que se vê na capital de São Paulo é fruto de puro abandono e total falta de autoridade. São pessoas imundas que emporcalham a cidade como prova da sua selvageria e reflexo da insensibilidade dos governantes. Uns defecam nos jardins. Outros cozinham debaixo dos viadutos. Há ainda os que penduram a roupa encardida nos galhos das árvores. Tudo a céu aberto e no maior acinte aos cidadãos que aqui vivem. Na ausência de um plano diretor para cuidar da habitação, avoluma-se o número de pessoas que, usando tábuas, papelão e até embalagens de geladeiras, vão se mudando definitivamente para debaixo das pontes, onde passam a residir "tranquilamente" no meio de escandalosa sujeira. O mais espantoso é ver as autoridades municipais e estaduais consentirem com a multiplicação desses chiqueiros que, na verdade, são uma verdadeira provocação aos que pagam altos impostos e que têm o direito de exigir um mínimo de higiene na cidade em que habitam e trabalham. Já passou bastante da hora de as autoridades agirem. Elas estão atrasadas há vários anos -mas têm de agir. Não é justo que a população como um todo seja submetida a um ambiente tão vergonhoso e deprimente como é o de São Paulo. Não sou saudosista a ponto de querer voltar ao tempo do prefeito Faria Lima, quando o símbolo da capital era uma bela rosa. Mas também não acho correto submeter um povo trabalhador a uma cidade imunda e abandonada. Afinal, esse povo está seguindo as regras democráticas, comparece às eleições e escolhe ordeiramente os seus vereadores, prefeitos e governadores. É hora de eles realizarem mais trabalho e menos política, limpando esta cidade que já foi orgulho do nosso país. Mãos à obra! Texto Anterior: Carta ao Lobo Mau Próximo Texto: A revanche do território Índice |
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