São Paulo, quarta-feira, 6 de agosto de 1997
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Pitta deveria renunciar antes de ter um treco

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

Fico imaginando o inferno que não deve ter virado o dia-a-dia do prefeito Celso Pitta. Posso vê-lo, logo de manhã, reunido com especialistas em contabilidade, a fim de refazer as contas de sua declaração de renda do ano passado, que ele próprio admitiu conter falhas.
Na sequência, em meio às centenas de decisões que o prefeito de uma cidade do porte de São Paulo é obrigado a tomar, ele deve ser obrigado a encontrar tempo para falar com o time de advogados que lida com as denúncias que o apontam como um dos principais responsáveis no caso da CPI dos Precatórios.
Imagino que nosso Pitta ainda tenha de fazer malabarismos para encaixar, entre uma conversa e outra com seus assessores, telefonemas e mensagens via fax para os advogados que tratam de sua defesa no caso da venda de frangos para a prefeitura, durante a gestão de seu mentor Paulo Maluf.
Não entro no mérito do grau de envolvimento do atual prefeito nas falcatruas de que é acusado. No caso do "chickengate", por exemplo, só um petista ingênuo pensaria que o "ishpérto" Paulo Maluf arriscaria ser pego com a mão na massa, feito um ladrão de galinhas qualquer, em uma transaçãozinha com um cunhado.
O que me incomoda, como paulistana e pagadora de impostos, é perceber que, em face do tamanho da encrenca em que está metido, Pitta não tem cabeça nem disposição integral para ocupar o cargo para o qual foi eleito.
A cidade está à beira do colapso e todos os dias o prefeito é obrigado a rebolar para dar conta de necessidades prosaicas, como encontrar dinheiro para pagar a coleta de lixo.
Alguém que é obrigado a passar o dia se defendendo e respondendo também pelas acusações que pairam sobre a cabeça da mulher pode ter a serenidade necessária para lidar com os imensos problemas que a cidade está enfrentando? O leitor "olho-por-olho" dirá que Pitta tem obrigação de resolver os problemas que ajudou a criar.
Pois, na minha opinião, chegou a hora de ele ter a coragem de admitir que não dá mais pé.
Com todo o respeito, se eu fosse o senhor, prefeito, pedia as contas. Ou será que o senhor acha que dá para continuar nessa toada até o final do mandato?

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