São Paulo, quarta-feira, 6 de agosto de 1997
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Financiando o inimigo

VALDO CRUZ

Brasília - A maior parte das entidades de classe dos policiais militares funciona dentro dos próprios quartéis. Despesas de manutenção, como contas de água e luz, são custeadas pela PM.
Essa é apenas uma das distorções existentes hoje dentro das polícias militares. E foram essas associações as responsáveis pela organização das greves que se espalharam pelo país.
Em outras palavras: os governos estaduais financiaram as entidades que se rebelaram contra a política de arrocho salarial. Nada contra a reivindicação por melhores salários, mas essa distorção demonstra a falta de atenção dos Estados à estrutura policial.
Desatenção que levou muitos governadores a manter na cúpula da PM policiais sem nenhum poder sobre a tropa. Sem comando, os policiais ficaram livres para promover as cenas de violência dos últimos meses.
Alguns Estados acordaram antes para a crise. Quando percebeu que a crise começava a ficar séria, o governador Jaime Lerner (Paraná) trocou os comandos das polícias militar e civil do Estado.
O governador Tasso Jereissati (Ceará) foi outro que conseguiu manter o comando sobre sua Polícia Militar, desarticulando o movimento grevista em seu Estado.
O gesto do governador tucano, festejado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, ajudou a esvaziar a crise das polícias.
Mas, por ironia do destino, pode acabar atrapalhando uma reformulação profunda da política de segurança pública no país.
Claro que Jereissati não tem nenhuma culpa no caso. O problema está no governo tucano e no Congresso Nacional, que costumam reagir apenas quando estão sob pressão.
Como a crise das PMs está esfriando, o governo e o Congresso resolveram mostrar todas as suas divergências em relação às propostas em debate. A possibilidade de não haver consenso é grande.
Enquanto isso, à sociedade restará ficar aguardando uma nova onda de turbulências e violência.

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