São Paulo, quinta-feira, 7 de agosto de 1997
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Métodos pedagógicos diversos se cruzam no ensino brasileiro

FABRIZIO RIGOUT
DA REDAÇÃO

Famílias que procuram escolas para seus filhos certamente já ouviram de um diretor ou coordenador pedagógico que sua escola "segue a linha construtivista".
O termo "construtivismo", pela vulgarização que sofreu, pode significar desde a aplicação criteriosa das idéias do filósofo Jean Piaget (1896-1980) e da pedagoga Emília Ferreiro, 60, até, em definição ampla, qualquer método de ensino que respeite o ritmo de cada aluno.
"Quando o pai pergunta qual é o método, posso responder qualquer coisa. Eu sou educador, o pai é leigo", diz o diretor do Colégio Rousseau, Aércio Lombardi. "Todas as pessoas que trabalham sinceramente com educação chegam à mesma coisa por caminhos diferentes", acrescenta.
A "onda" construtivista chegou ao Brasil na década de 70, quando foram fundadas as escolas ditas experimentais ou alternativas. Elas davam prioridade à maneira pela qual o aluno compreende o mundo e descobre suas habilidades, isto é, tratavam o desenvolvimento intelectual como a capacidade que a criança tem de se adaptar ao meio. Para tanto, pautavam as aulas pela curiosidade dos alunos.
A experiência foi criticada em alguns aspectos. Do ponto de vista organizacional, notou-se que não era possível esperar o aluno se interessar por um assunto para então ensiná-lo. Outro problema é que nem sempre a escolarização da curiosidade dava certo.
Por outro lado, a aplicação do construtivismo possibilitou a formação de crianças mais críticas, opinativas, capazes de investigar por si próprias e não apenas meras assimiladoras de conhecimento.
Passada a experiência das escolas alternativas, o ensino fundamental privado tornou-se em larga medida uma fusão do construtivismo com outras técnicas pedagógicas, desde as idéias da educadora italiana Maria Montessori (1870-1952) até a preocupação, hoje predominante, com a informação transmitida, ou seja, com o conteúdo.
Isso se traduz na oferta de cursos optativos, atividades extraclasse, cursos de línguas e informática logo nas séries iniciais.
O conteudismo tem apelo entre pais preocupados com os testes a que seus filhos serão submetidos -cada vez mais cedo- durante a vida escolar, ou os que buscam prepará-los desde logo para um mercado de trabalho competitivo.
Em resposta a essa ansiedade, muitas escolas anunciam preparar seus alunos para "as profissões do século 21". A estratégia delas não se resume a estar em dia com a tecnologia, como alerta a professora Maria Cecília de Souza, da Faculdade de Educação da USP.
"Não é preciso correr atrás da tecnologia, mas sim ensinar certas habilidades que ela supõe, como tipos de raciocínio formal, abstrato e reflexivo, que são básicos para operar nesse ambiente", afirma.

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