São Paulo, quinta-feira, 7 de agosto de 1997
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Biblioteca Nacional do Rio recusa exposição

CRISTINA GRILLO
DA SUCURSAL DO RIO

Representantes da comunidade judaica do Rio acusam a Biblioteca Nacional de censurar uma exposição sobre os 500 anos da expulsão dos judeus de Portugal, que seria inaugurada anteontem.
Entre os motivos apresentados pela direção da instituição para suspender a exposição estaria o receio de melindrar o governo português. Além disso, a direção da biblioteca condicionou uma montagem futura da mostra ao exame prévio, por seus técnicos, do material a ser apresentado.
"Recebemos um telefonema informando que a exposição estava suspensa por receio de que os portugueses se sentissem ofendidos", disse Luiz Benyosef, um dos organizadores da mostra.
A organização da exposição foi informada de sua suspensão por telefone no dia 9 de julho.
Depois, em um ofício datado de 28 de julho -oito dias antes da inauguração- a suspensão foi confirmada.
Ao ofício, assinado pela funcionária Lia Figueirinha, da assessoria de eventos da instituição, foi anexado um parecer do chefe de gabinete da biblioteca, Carlos Sepúlveda.
No parecer, ele recomenda "que se avalie com cautela o impacto diplomático que tal tipo de tema pode eventualmente sugerir em relação ao governo português".
Além disso, sugere uma mudança no título da mostra, "esclarecendo com profundidade que se trata de uma situação ibérica, circunscrita a uma época precisa".
Lia Figueirinha afirma ainda, no ofício, que a exposição não poderia ser realizada na data prevista porque obras de restauração na biblioteca não estão concluídas.
"Se fosse só esse o motivo, não haveria sentido nas referências ao governo português e à necessidade de exame prévio do material feitas no parecer", disse Benyosef.
Depois de receber o ofício, Benyosef e Frieda Wolff, organizadores da exposição, conseguiram transferi-la para o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, onde foi inaugurada anteontem.
"Mas isso não é certo. Temos um compromisso assinado com a biblioteca", afirmou Benyosef.
O organizador da exposição reclamou ainda de ter pago R$ 3.390,80 pela restauração de algumas vitrines da biblioteca que seriam usadas na exposição.
"Quando fechamos a programação, recebemos a solicitação para pagar a restauração das vitrines. Pagamos, mas agora ninguém mais toca nesse assunto", disse Benyosef.
A exposição "500 Anos da Expulsão dos Judeus de Portugal" traz reproduções de documentos do período da Inquisição portuguesa e do ato de expulsão dos judeus do país. A mostra passou pela Hebraica, em SP.

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