São Paulo, quinta-feira, 7 de agosto de 1997 |
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Regente tira platéia da realidade
LUIS S. KRAUSZ
Zukerman é, a um só tempo, mago e artesão. Regendo o concerto "Il Sospetto", de Vivaldi, mostrou-se um construtor de sons minucioso, que tem com a orquestra um alto grau de solidariedade. Como solista, na mesma obra, foi um virtuose apaixonado e impetuoso. A intimidade de Zukerman com a English Chamber Orchestra já é antiga. Foi à frente desse grupo que ele começou sua carreira de regente, em 1970. Ao tocarem a "Sinfonia Oxford", de Haydn, evidenciaram muitas nuances timbrísticas que desaparecem quando uma orquestra sinfônica apresenta a mesma obra, já que foi possível destacar melhor os diferentes grupos de instrumentos. Num programa sábio, que começou com o barroco, passou pelo classicismo e terminou com o romantismo passional do "Concerto para Violino e Orquestra", de Beethoven, os músicos conseguiram dar uma pequena amostra da abrangência de seu repertório e da magnitude de seu talento. Levado ao palco por um conjunto de câmara, o concerto de Beethoven torna mais equânimes solista e orquestra. O menor volume sonoro do grupo certamente está mais perto do original do que o de uma sinfônica moderna, mas ainda assim não se poderia chamar essa leitura de histórica. Mais adequado seria dizer que foi absoluta. Enquanto tocavam, perdia-se a noção do tempo: cada passagem transportava os ouvintes para longe do universo de relatividades aonde vamos existindo, em direção a outras esferas. Tanto que, ao fim da peça, numa cena rara nos nossos teatros, todos, sem exceção, saltaram de suas cadeiras para aplaudir. Zukerman só conseguiu aplacar os ânimos tocando uma cantiga de ninar. Uma noite para se contar aos netos. Texto Anterior: Gramado abre amanhã à procura de perfil Próximo Texto: Evento promove simpósios Índice |
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