São Paulo, quinta-feira, 7 de agosto de 1997
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SEM INFLAÇÃO, SEM FESTA

A inflação medida em São Paulo em julho (0,11%), resultando em menos de 6% nos últimos 12 meses, é a mais baixa desde janeiro de 1951. Espera-se até 4% de inflação em 98.
O presidente Fernando Henrique Cardoso condenou ontem "os cegos que não querem ver", "maledicentes" que ignoram essa conquista.
Comparada à estabilização argentina, chilena ou mexicana, para ficar em exemplos próximos, a brasileira até agora teve custos bem menores em termos de desemprego.
O presidente, entretanto, parece cobrar da sociedade que festeje mais a vitória contra a inflação. É um pedido até compreensível, frente ao coro dos catastrofistas de plantão.
Mas é também o presidente, no discurso de ontem, quem deixa claro em seu improviso o que talvez seja a razão maior para a relativa apatia com que os indicadores baixíssimos de inflação passaram a ser recebidos.
Ele diz que "o nosso projeto só pode ser um, de segurar a economia, a estabilidade da economia".
Essa afirmação corresponde a um fato: para segurar a estabilidade da economia, é preciso segurar a própria economia, evitar o aumento do consumo e conter o crescimento.
A inflação baixa deve-se muito à abertura comercial. Mas nesse quadro não se pode crescer demais, para evitar o excesso de importações.
Segundo o economista Heron do Carmo, coordenador do IPC (Índice de Preços ao Consumidor), da Fipe, a queda de renda e os juros elevados -em suma, a contenção da economia- explicam a inflação baixa.
Poderia ser diferente se o governo tivesse conseguido eliminar o déficit público e aprovar reformas no Estado desde o início do atual mandato.
Mas o déficit nas contas públicas ainda é muito alto. Pode ser financiado apenas se o governo mantiver os juros elevados, que também impedem o crescimento econômico.
Em suma, a inflação baixa coexiste com desajustes no comércio exterior e nas contas públicas. Convém celebrá-la, mas sem excessos.

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