São Paulo, quinta-feira, 7 de agosto de 1997
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O nhenhenhém deles

CLÓVIS ROSSI

Jerusalém - Quem imagina que nhenhenhém é uma característica exclusiva brasileira, a partir do reinado tucano, deveria acompanhar o debate em Israel, em uma situação que é bastante mais crítica.
Até ontem, as coisas ainda caminhavam nos trilhos da substância, por mais duras que fossem as acusações de parte a parte.
Mas, anteontem, Iasser Arafat, o líder palestino, resolveu baixar o nível. Disse que Binyamin Netanyahu, o premiê israelense, é um novato em política, que não entende nem Israel nem os árabes porque viveu muito tempo fora (Bibi foi educado nos Estados Unidos).
Se acusado de algo parecido, Fernando Henrique Cardoso sairia com um "neobobo" ou alguma maioria do estilo, e assim mesmo se abordado pelos jornalistas.
Netanyahu, não. Deu-se ao trabalho de emitir nota oficial, por meio de seu porta-voz, para dizer que a crítica de Arafat só mostra que a política do primeiro-ministro "goza do respaldo maciço da grande maioria do público israelense".
É nhenhenhém para ninguém botar defeito.
De toda forma, o incidente é revelador de que, mesmo nesta era de alta tecnologia, comunicações instantâneas, o diabo, a empatia pessoal ainda é fundamental.
Netanyahu nunca escondeu um certo desprezo por Arafat, para dizer o mínimo.
Bem ao contrário de seu antecessor Shimon Peres, por exemplo.
Arafat, então, chegou a deixar o estrado do qual fazia um discurso no Fórum Econômico Mundial, em Davos (Suíça), para abraçar e beijar Peres no rosto.
Com Netanyahu, era apenas formal até agora e já começa a ser agressivo.
Agora, ou Bibi engole seu "sapo barbudo" ou Arafat aceita o "novato". Ou, o que seria infinitamente pior, os dois enfiam suas sociedades em um beco mais escuro do que o atual.

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