São Paulo, quinta-feira, 7 de agosto de 1997
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PT em transe

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - A pior herança que o comunismo deixou à humanidade não foram os crimes de Stálin nem a simplificação ideológica do socialismo. Foi tudo isso mais a estúpida certeza de que era o dono da verdade e da história. Daí que esse legado negativo contaminou a esquerda em todo o mundo, muito especialmente a nossa, cuja expressão mais organizada é o PT.
Parece um paradoxo. O PT, como o governo de FHC, é um saco de gatos, dividido e subdividido em alas que se atritam. Com a responsabilidade de liderar os afins, o petismo procura um eixo que o torne viável na tentativa de conquistar o poder.
De certa maneira, o partido procura o seu PFL -tal como as pombas imaculadas do PSDB procuraram e acharam o poder no sinistro ninho dos mochos sobreviventes do regime militar. Todos os caminhos são bons se levam ao poder. Que o PSDB pensasse assim, tudo bem. Era uma dissidência do PMDB, sem expressão eleitoral, necessitada de um espaço que no partido-mãe estava ocupado por Ulisses e Quércia.
O PT participou do encontro havido semana passada no Sul, encontro anunciado pela mídia como de "esquerdistas". Para avaliar a pobreza ideológica reinante, basta lembrar que somente à última hora foi aprovada a inclusão da palavra "socialismo" no documento final.
Dizem que a palavra é impalatável. O Muro de Berlim caiu. Os corifeus do neoliberalismo, confundindo espertamente comunismo com socialismo, colocaram a sociedade fora do jogo, substituindo-a pelo mercado. A humanidade, que é a reunião de todos os homens, bons e maus, fortes e fracos, burros e gênios, deu lugar ao aglomerado de bens produzidos a baixo custo, distribuídos eficientemente e consumidos obrigatoriamente.
Essa nova ordem (que é velha, nasceu na Idade Média) intimida a esquerda e faz o PT perder pouco a pouco sua identidade.

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