São Paulo, quinta-feira, 14 de agosto de 1997
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Entidade quer enquadrar médicos e criar 'manual'

LUCIA MARTINS
DA REPORTAGEM LOCAL

A Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) está defendendo a criação de um "manual" de normas para os médicos que tratam doentes de câncer no país.
O objetivo é reduzir a liberdade do oncologista e, com isso, fazer um controle de qualidade das terapias de câncer. Assim, o médico seria obrigado, por exemplo, a pedir um número X de exames ou prescrever um X de remédios.
A proposta ainda não saiu do papel e depende da vontade do Ministério da Saúde em levar a idéia adiante. A normatização das terapias (ou "guidelines") já foi feita em vários países desenvolvidos, como, por exemplo, nos EUA e no Canadá, mas enfrenta resistência.
O tema foi debatido na abertura do 10º Congresso Brasileiro de Oncologia Clínica, ontem em São Paulo. "O processo de normatização é inevitável e irreversível. Por isso, é melhor que a gente esteja à frente para fazer com que ele seja feito da maneira mais correta", diz o professor de oncologia da Faculdade de Medicina da PUC-RS, Carlos Barros.
Barros defende a criação das normas, porque será uma maneira de criar uma auto-avaliação dos tratamentos e, ao mesmo tempo, elevar a qualidade das terapias.
"Hoje, cada um faz o que quer, o que pode implicar em desperdício -com excesso de exames, por exemplo- ou em desleixo", diz o presidente da SBOC, Artur Katz.
O coordenador de câncer da Secretaria Estadual de Saúde de Minas Gerais e chefe do serviço de oncologia clínica da Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte, Sebastião Cabral Filho, é um dos críticos da normatização das terapias. Segundo ele, o grande perigo da criação "de uma receita de bolo para cuidar de uma pessoa com câncer" é que isso seja feito apenas para calcular o custo do paciente.
"Padronizar condutas interessa a pessoas que querem baratear os custos do pacientes, e isso é interesse do governo."
Outro ponto negativo, diz Cabral Filho, é o fato de que as normas "passam a ser verdade absoluta e imutável". "E nós sabemos que, em medicina, a verdade muda o tempo inteiro. Além disso, receita só serve para quem ainda não aprendeu a fazer bolo."
Barros rebate o argumento dizendo que as normas não devem ser usadas como uma "camisa-de-força". "Elas terão que dizer não só o que é certo e errado, mas também o que é incerto."

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