São Paulo, quinta-feira, 14 de agosto de 1997
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Camargo reaparece em escala reduzida

PAULO VIEIRA
EDITOR-ADJUNTO DA ILUSTRADA

Uma exposição de esculturas quase sempre ocupa grandes espaços. Não é o caso, contudo, da retrospectiva do carioca Sérgio Camargo (1930-1990), que o Gabinete de Arte Raquel Arnaud apresenta a partir de hoje.
Apostando em apresentar o "processo" do artista, a curadora Sônia Salzstein selecionou pequenas peças, a maioria de mármore e madeira pintada de branco, colocadas sobre uma grande bancada, que ocupa longitudinalmente a galeria.
"A idéia que pautou a exposição foi a da passagem, cada peça de Sérgio aponta para um sem-número de peças futuras. Quis mostrar como operava o raciocínio do artista", diz a curadora.
A idéia é traduzida na mostra pela multiplicação de um mesmo elemento, o "módulo", geralmente um semicilindro de pequenas dimensões.
Usando dois ou três deles, Camargo produzia um lote variado de peças, como a fazer arranjos combinatórios com o elemento. Daí surgiam peças que tanto podem lembrar bisnagas de pão como esferas.
Camargo, contemporâneo do movimento neoconcreto brasileiro (Oiticica, Clark, Schendel), foi um artista em certa maneira fora do tempo. Eclipsado pelos colegas, teve a obra confundida ora com uma escultura de raiz clássica -o uso de materiais clássicos como o mármore a contribuir- ora com um formalismo que o conjunto de sua obra pode sugerir.
Mas ele soube dar soluções criativas ao próprio aprisionamento que se impingiu. Isso fica claro em algumas peças da mostra, que combatem a monotonia dos arranjos combinatórios de seus elementos com informalidade. Dois semicilindros podem estar superpostos, como a cruzarem pernas um sobre o outro.
A exposição traz poucas peças de parede -relevos formados com centenas de seus semi-cilindros- que notabilizaram os últimos anos da obra "branca"de Camargo.
A galerista Raquel Arnaud, que representa o espólio artístico de Camargo desde a morte do artista, constituiu uma empresa cujo objetivo é apresentar, em sede permanente, sua obra. Não há ainda imóvel definido -"gostaria de um prédio tombado", diz Arnaud-, mas a sede deverá ser em São Paulo.
Ela já tem catalogada toda a obra de Camargo e deve editar um "raisonnée". A fundação também emite expertises e aceita obras em comodato para dar o que chama de "olhar público" à obra de Camargo.

Exposição: Sérgio Camargo
Onde: Gabinete de Arte (r. Arthur de Azevedo, 401, Pinheiros, tel. 883-6322) Quando: hoje, 19h. Seg. a sex., 10h às 19h; sáb., 11h às 14h. Até 26/9

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