São Paulo, quinta-feira, 14 de agosto de 1997
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O ROMBO DO NACIONAL

É estarrecedora a revelação de que o rombo criado fraudulentamente no Banco Nacional chegou a R$ 9,2 bilhões, ou de que funcionários do banco conseguiram criar entre 1988 e 1995 nada menos que R$ 16,9 bilhões em receitas fictícias. Onde estava o Banco Central? Onde estava a KPMG, auditora privada que assinou relatórios assegurando a integridade das operações do Nacional?
A fraude é pelo menos o dobro do que foi revelado em novembro de 1995. A discrepância entre o valor agora apurado pela Polícia Federal e o divulgado antes pelo Banco Central exige mais esclarecimentos.
Caso contrário, o Brasil continuará sendo um dos recordistas mundiais não só em corrupção e fraudes, mas também na apuração morosa das irregularidades. Tão grave quanto a fraude, tão revoltante quanto a demora nas apurações e na punição dos culpados é a falta de providências, por parte do Banco Central, no sentido de dar à sociedade e aos contribuintes garantias de que esses crimes sofisticados não se repitam.
Acenou-se com novos sistemas de aferição de créditos bancários, mencionou-se a necessidade de introduzir legislação que aumente as responsabilidades dos auditores, mas, na prática, pouco ou nada se fez. O governo continua devendo muito em termos de esforço para prevenir as fraudes no sistema financeiro.
Como se sabe, frequentemente a leniência no combate a esses crimes resulta de conluios políticos. Basta examinar qualquer lista de doações para campanhas eleitorais para perceber o peso das instituições financeiras, que, muitas vezes, acabam cobrando caro o retorno pelo "investimento". Quem paga é a sociedade.
É lamentável que o inquérito da PF não tenha investigado os funcionários do BC responsáveis pela fiscalização das operações do Nacional.
Espera-se ainda do Banco Central uma apuração rigorosa e mais rápida. Mas, acima de tudo, são inadiáveis medidas que reduzam os riscos de novos Proer no futuro.

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