São Paulo, quinta-feira, 14 de agosto de 1997
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Apartheid comprovado

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - O Banco Mundial editou, no ano passado, seu Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial-1996, com o subtítulo "Do plano ao mercado".
O professor Wanderley Guilherme dos Santos (do Iuperj, Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro) separou algumas tabelas que acompanham o estudo para relacionar os países conforme a renda "per capita" e a concentração de renda.
O Brasil é o país de mais vergonhosa concentração de renda entre os 85 mencionados, o que inclui de miseráveis países africanos e asiáticos aos mais ricos do mundo.
Até aí, nenhuma grande novidade. O problema se torna mais feio quando se verifica a distância entre o Brasil e o grupo dos 20 países de renda alta, o clube a que o Brasil aspira ingressar, se e quando atingir o radioso futuro de que sempre ouvimos falar, mas que jamais chega.
No Brasil, os 10% mais ricos ficavam, em 1994, com 51,3% da renda nacional. É o único da lista em que mais da metade da riqueza é abocanhada por um grupo tão pequeno. O mais próximo é a África do Sul (47,3%), não por acaso o país que começou a desmantelar o apartheid em 1994.
Quando se usa, no Brasil, a expressão apartheid social, não é, pois, mera figura de linguagem.
Essa situação deveria ser contabilizada, com destaque, no chamado "custo Brasil". Sem reduzir as desigualdades, as chances de o Brasil, algum dia, entrar para o clube dos países ricos diminuem significativamente.
Detalhe fundamental: entre os países nos quais as diferenças são bem menores do que no Brasil, há aqueles, como a Bolívia, que passaram por hiperinflação. Não é, portanto, desculpa. Como não adianta dizer que a distribuição de renda melhorou pós-Plano Real (exatamente de 1994). A melhoria foi insignificante, incapaz de tirar o Brasil do último lugar no campeonato da justiça social.

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