São Paulo, sábado, 16 de agosto de 1997
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O imponderável

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE

E Hill, do nada, faz o terceiro tempo no treino. Não satisfeito, resolve ganhar a corrida, algo que só não acontece por capricho dos deuses das pistas, que preferem reabilitar Villeneuve.
Assim como já havia ocorrido em Hockenheim, com Berger, o show de Hill em Hungaroring não representou apenas a reação dos veteranos diante do atrevimento da molecada.
Ou o dedo de Barnard no carro da Arrows. Ou a superioridade da Bridgestone em circuitos travados. Ou Hill preocupado em garantir serviço para 98.
Na verdade, tudo faz parte de um único movimento, que está transformando a atual temporada num agradável campeonato, algo que há anos a categoria não estava vivendo.
Até o começo de 94, os brasileiros viveram o idílio Senna e não se deram conta de que assistir ele e outro vencendo tudo, no fundo, era uma chatice.
Aliás, apesar de reconhecerem o talento do tricampeão, muitos setores da mídia européia, principalmente a inglesa, detestavam aturar o piloto brasileiro.
Claro, a F-1 atual está longe da dinâmica sanguinária dos 70 ou dos turbinados anos 80. Assim como dos históricos duelos da virada para os 90.
Mas nada disso voltará a acontecer. Qualquer tentativa nostálgica iria eliminar pilotos, algo que a FIA não permite mais, ou relegar a categoria à receita lotérica da Indy -note que é exatamente essa a discussão entre Villeneuve e Mosley.
A F-1 tenta desenhar um novo caminho. E, mesmo sem querer, o atual parece cada vez mais conveniente. Sem sangue, sem revoluções tecnológicas, sem duelistas. Na verdade, sem um grande e verdadeiro motivo.
Mas capaz de fazer um Williams capitular por problemas de freio; um Schumacher cometer erros; um Frentzen dar a volta por cima; uma Stewart chegar em segundo; uma Ferrari se tornar suspeita; um Berger ofuscar um Fisichella. Capaz de fazer um Hill quase chegar lá.

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