São Paulo, terça-feira, 19 de agosto de 1997
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'Não vai haver rebaixamento'

WILSON SILVEIRA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O coordenador de Políticas de Transportes do Ministério dos Transportes, José Alex Botelho de Oliva, 47, disse que nenhuma área do Pantanal deixará de ser alagada, porque "não vai haver rebaixamento do nível do rio Paraguai".
Ele se baseia em estudo do professor Carlos Eduardo Tucci, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que estudou o Pantanal durante dez anos.
Segundo Tucci, são despejadas 300 toneladas por ano de sedimentos no Pantanal, no período de enchente. Desse total, 40 toneladas são levadas pelas águas -o restante fica e vai se acumulando no fundo dos rios. O objetivo da dragagem, disse, é retirar esses sedimentos, o que não implica o rebaixamento da cota do rio Paraguai.
Ele afirma que a dragagem será restrita a alguns trechos da hidrovia, o que reduz o risco tanto de rebaixamento da cota quanto de contaminação causada pela ressuspensão de produtos químicos.
Alex disse que as críticas dos especialistas já eram conhecidas dos responsáveis pela hidrovia e que não são motivo de preocupação, porque "não têm fundamento".
"Essa hidrovia sempre existiu e é conhecida praticamente desde o descobrimento do Brasil. O que estamos fazendo são intervenções 'cirúrgicas' em pontos críticos para permitir a navegação com segurança durante 24 horas por dia."
Um dos problemas da análise independente, afirmou, é pressupor que haverá intervenção na maior parte da hidrovia.
"O problema está no trecho Cáceres-Corumbá, cuja extensão é de 680 km. Depois de Corumbá, o rio é plenamente navegável, com capacidade de transporte de comboios de até 40 mil toneladas. Entre Cáceres e Corumbá, a capacidade máxima é de 8.000 toneladas e vai continuar assim."
Hoje, afirmou, está sendo colocada sinalização na margem do rio Paraguai, entre Cáceres e Corumbá. Ainda neste ano deve ser feito o levantamento topográfico do fundo do rio Paraguai, que vai dar origem a uma carta de navegação.
Alex disse que não tem cabimento a afirmação de que o projeto não beneficia a população da região.
Segundo ele, o pleno funcionamento da hidrovia deverá reduzir cerca de 50% o frete de produtos agrícolas. Como são os produtores que pagam o frete, essa sobra se torna um ganho que pode ser reinvestido na produção -ou seja, um benefício social direto.
Com o argumento, ele disse que nem era preciso entrar no mérito da alegada superestimativa de safras e do preço do minério de ferro.
Transporte
Ele disse que a hidrovia servirá de meio de transporte de arroz, soja, milho e trigo (este importado da Argentina, que hoje faz um longo "passeio" até o destino).
Segundo ele, a "redescoberta" dessa hidrovia mais do que quintuplicou o embarque de grãos em Cáceres. Em 95, o embarque foi de 14 mil toneladas. No primeiro semestre de 97, foi de 70 mil toneladas, com o barateamento do frete.
Sobre a concorrência com outras hidrovias e outros meios de transporte, Alex disse que a Panará-Paraguai já é consagrada. Assim, sua melhoria terá reflexo imediato, com a ampliação do seu uso.
No futuro, afirmou, à medida que surgirem outras alternativas, vai haver uma racionalização do uso de cada uma. Sob o aspecto ambiental, Alex afirmou que a hidrovia é o meio de transporte mais preservacionista que existe.
Para criticar os ambientalistas que assinam o relatório independente, citou frase do governador de Mato Grosso, Dante de Oliveira (PSDB): "Não somos irresponsáveis. Não vamos cometer os mesmos erros dos países onde estão sediadas essas ONGs, que destruíram seus recursos hídricos".
Consórcios
Sobre os estudos de viabilidade e de impacto ambiental dos consórcios Taylor e Hidroservice, Alex disse que não são definitivos e que vai haver estudo mais aprofundado em relação a vários procedimentos, antes que o projeto seja colocado em prática.
A Folha enviou por fax cópias desta reportagem para as consultorias Taylor e Hidroservice e para o escritório de administração da hidrovia Paraná-Paraguai, todos em Buenos Aires, e não obteve resposta.
(WS)

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