São Paulo, terça-feira, 19 de agosto de 1997
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Excel demonstra que empresa não é tudo no fut

MATINAS SUZUKI JR.
DO CONSELHO EDITORIAL

Meus amigos, meus inimigos, não resta dúvida que a modernização do futebol brasileiro passará pela mudança de gestão dos clubes -que deverão ter administrações profissionalizadas e mais próximas do conceito de empresas.
É isso que pede a Lei Pelé, e ela está na tendência certa.
Creio até que a Lei será mais benéfica para os times pequenos ou em grave crise financeira, pois a eles restarão poucas alternativas.
A proposta de uma empresa do setor financeiro para o Fluminense -da qual não conheço os detalhes- parece ser fundamental para o futuro daquele time carioca.
Os times com maiores capacidades de gerar recursos e os que têm situação financeira mais equilibrada encontrarão menos motivos para adotar a transformação (mas a pergunta aqui não o quanto estão ganhando, mas o quanto estão deixando de ganhar com o sistema administrativo arcaico do futebol brasileiro).
Isso posto, o fato de um clube se profissionalizar ou virar empresa não garante, de antemão, que o time passará a ser sucesso da noite para o dia.
Há empresas mal administradas e empresas bem administradas. O que se quer é uma maior racionalidade e uma maior transparência na gerência e nos demonstrativos contáveis dos clubes, além de cortar o subsídio inaceitável que os contribuintes dão para a má gestão futebolística local.
Todo esse preâmbulo são as minhas salvaguardas para dizer que uma empresa, aparentemente moderna e eficiente, pode ser muito atrasada na sua participação no futebol.
É o caso, por exemplo, da atuação do banco Excel na gestão do Corinthians (clube que, na minha visão, deveria ter sido punido, ao lado dos outros envolvidos, pela participação de seu presidente no caso Ivens Mendes. Se a punição não é extensiva aos times, como ocorre na Europa, os diretores se sentem totalmente à vontade para participar da fabricação de resultados).
Ok, o banco obteve algum retorno com o título paulista do alvinegro. Mas, para além dessa visão imediatista, o que ele está criando de concreto, de moderno, de eficiente, de estratégia de médio prazo na sua participação no futebol?
A impressão que fica é que o Excel não tinha e não tem, como a Parmalat, uma estratégia bem fundamentada para o futebol. O banco precisava popularizar rapidamente a sua marca, abrir agências, captar clientes e achou no futebol uma maneira de obter resultados em curtíssimo prazo.
Dentro dessa política de fazer barulho logo de cara, o banco contratou às cegas, gastou muito e mal e, agora, encontra dificuldades para redirecionar seus investimentos.
Passado o impacto e o foguetório inicial, vê-se que o projeto do Excel no futebol é muito pouco consistente.
É uma pena para ambos, porque o jovem banco poderia estar consolidando posições futuras, se não estivesse tão perdido e tão mal assessorado no presente, posições futuras que poderiam tirar, de uma vez por todas, o Corinthians do sonolento provincianismo.
(Como tudo mudou, com licença do Lampedusa, para nada mudar no alvinegro, o técnico foi quem pagou a conta.)

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