São Paulo, quinta-feira, 21 de agosto de 1997
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Municipal enfrenta desafio de encenar a 'ópera perfeita'

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

Giuseppe Verdi (1813-1901) já estava com 74 anos quando compôs "Otello". Era um reconhecido e consagrado gigante do teatro lírico. Mesmo assim, buscava a renovação de sua própria linguagem. Escreveu o que foi para muitos uma ópera perfeita.
A perfeição exige em dobro de seus intérpretes. A possibilidade de deslizes é maior. É esta, em suma, a responsabilidade dos que estarão participando das cinco récitas de "Otello" no Teatro Municipal de São Paulo.
As apresentações começam na próxima terça-feira. A direção musical será de Isaac Karabtchevsky e a direção cênica de Roberto Oswald, que constituiu carreira no Teatro Colón, de Buenos Aires, de onde também vêm os figurinos.
A superprodução da Prefeitura de São Paulo (R$ 794 mil) tem como lastro um grupo aparentemente homogêneo de cantores. No papel-título, revezam-se o tenor islandês Kristjian Johannsson e o russo Vladimir Bogachov.
Desdemona será vivida pelas sopranos norte-americana Aprile Millo e a grega Dimitra Theodossiou. Iago, por fim, será interpretados pelos barítonos romeno Eduard Tumagian e o mais experiente do elenco, o italiano Renato Bruson, 61.
A ação se passa em Chipre, no final do século 15. O livreto, de Arrigo Boito, baseia-se com a fidelidade possível, dentro do romantismo italiano, na tragédia homônima de William Shakespeare.
O mouro Otelo é um general do Exército de Veneza que volta triunfante para casa, após derrotar os muçulmanos. Um de seus adjuntos, Iago, procura comprometer um rival, Cassio. Forja contra ele a acusação de manter um caso amoroso com Desdemona.
Ela é a mulher de Otelo. Este, por sua vez, deixa-se corroer pela dúvida, pela depressão obsessiva. A suposta afronta a sua honra precisa ser vingada.
A ópera dá margem a momentos de densa introspecção. Estão em jogo o poder, os mais baixos e os mais elevados sentimentos, mas também um rico entrelaçamento de intenções.
Elas dão à narrativa um enriquecimento que a música constrói de maneira crescente.
A ópera anterior de Verdi, "Aida", composta 16 anos antes, parece, por contraste, como uma historieta de linearidade vulgar. "Otello" rivaliza com "Falstaff", última criação do mestre italiano, também baseada em peça de Shakespeare e que estreou em 1893.
Em seu penúltimo trabalho para o teatro, Giuseppe Verdi não se apega mais à sintaxe da dramaturgia lírica (sucessão de recitativos, árias, duetos, peças de intervenção apenas coral).
A música corre mais solta. Uma mesma frase musical -como no dueto de amor, ao fim do primeiro ato, e a morte de Desdemona, ao final do quarto- passa a enriquecer o drama como uma sobreposição semântica, recurso próximo ao "leitmotiv" wagneriano.
Há montagens antológicas de "Otello" e gravações exemplares em suas ênfases. Com o elenco que importou, o Teatro Municipal teria, em tese, a obrigação de ao menos se aproximar um pouco delas.

Ópera: "Otello", de Giuseppe Verdi, com libreto de Arrigo Boito
Onde: Teatro Municipal de São Paulo (pça. Ramos de Azevedo s/n, tel. 011/222-8698)
Quanto: R$ 5 a R$ 50

LEIA MAIS sobre "Othello" à pág. 5-5

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