São Paulo, quinta-feira, 21 de agosto de 1997 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Intérpretes divergem sobre seus Otelos
JOÃO BATISTA NATALI
(JBN) * Folha - Que importância o papel de Otelo tem em sua carreira? Vladimir Bogachov - É de longe o papel mais importante e mais cheio de dificuldades que já interpretei. Há poucos tenores convidados para essa interpretação, e sinto-me envaidecido por estar hoje entre eles. Folha - A dificuldade é técnica, em termos de canto, ou é dramática, a interpretação cênica? Bogachov - A voz deve ser treinada para o papel. Se ela for um pouco mais leve, pendendo para o lírico, o lado dramático se perderá. Se, ao contrário, ela for mais pesada, "wagneriana", será impossível cantar certas passagens. Folha - Não é também um papel que exige muita resistência física? Bogachov - É verdade. Durante a trama, o papel não pára de "crescer". Há a necessidade de uma presença constante no palco. Folha - "Otello" é uma tragédia shakespeariana muito densa. Seria concebível, nela, um cantor que não fosse também um bom ator? Bogachov - Comparativamente, numa ópera como "Aida", o intérprete de Radamés pode ter pouca movimentação cênica. Não em "Otello". Cada verso é carregado de sentidos. O drama precisa ser interpretado. Folha - A emoção, nesse papel, precisa ser explicitamente transmitida, ou, ao contrário, já há uma sobrecarga emotiva muito grande na música e no próprio libreto? Bogachov - Depende de como eu sinto o papel em determinada montagem, como os demais papéis são sentidos por meus parceiros de cena, ou o tipo de instrução dada pelo diretor cênico. Antes de começar a cantar, eu estudei para ser ator. E uma das coisas que meus professores em Moscou me ensinaram é a repetição do mesmíssimo texto com inflexões sempre variadas. Otelo é um personagem dinâmico. Ele "muda". Folha - Ao entrar em cena, o sr. pensa mais no compositor Verdi, no libretista Boito ou no dramaturgo Shakespeare? Bogachov - A bem da verdade, creio que o personagem é o de Boito, e não o de Shakespeare. Boito mudou o original shakespeariano. Creio que os diretores devem se ater ao libreto. As leis da ópera são diferentes das leis do drama. Texto Anterior: CLIPE Próximo Texto: Islandês vai à "fonte" Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |