São Paulo, sábado, 23 de agosto de 1997
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ISRAEL E O TERRORISMO

Às vésperas de se completar um mês do atentado ao mercado Mahane Yehuda, em Jerusalém, que congelou de uma vez o já titubeante processo de paz no Oriente Médio, é o momento de tentar uma avaliação que fuja às emoções que cercam tudo o que diz respeito àquela região.
Num primeiro momento, era compreensível (o que não quer dizer justificável) que o governo israelense adotasse retaliações contra os palestinos. A sociedade israelense, traumatizada, exigia respostas e todo governo deve satisfações a seu público.
Agora, quase um mês depois, está evidente que o tipo de resposta usado pelo governo do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu é não só exagerado, mas até contraproducente.
Pode ser verdadeiro o argumento de que a ANP (Autoridade Nacional Palestina) não mostra empenho em combater o terrorismo nos territórios que administra.
Mas é equivocado imaginar que possa haver resultado eficaz contra o terror por meio da punição coletiva à sociedade palestina, na forma do bloqueio total de seus territórios e da retenção dos recursos que Israel apenas coleta, mas que pertencem à ANP, nos termos dos acordos de paz.
O mesmo mercado vítima do atentado mais recente já foi alvo de vários outros, o primeiro deles, em 1968, com maior número de vítimas fatais. Na época, Israel tinha o total domínio dos territórios palestinos e nem assim conseguiu prevenir o ato terrorista ou, posteriormente, prender seus autores.
Terrorismo é um fenômeno complexo demais, que envolve doses amplas de fanatismo, o que torna o combate a ele igualmente complexo. Mas o bom senso indica que aumentar as dificuldades dos palestinos, por meio do bloqueio, significa apenas alimentar o fanatismo.
Israel tem todos os motivos para mostrar preocupação exacerbada com a sua segurança. Mas a história ensina que a insegurança dos vizinhos não é o melhor caminho para assegurar a própria paz.

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