São Paulo, domingo, 24 de agosto de 1997
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Sindicatos ameaçam hegemonia do MST

RUBENS VALENTE
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE

O MSTR (Movimento Sindical de Trabalhadores Rurais), que congrega 61 sindicatos e 150 mil filiados, ameaça a hegemonia do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra) na pressão pela reforma agrária no Mato Grosso do Sul.
Em números, o MSTR já é maior do que o MST no Estado.
"Se fosse preciso, faríamos uma nova ocupação por dia durante 70 dias", afirma Geraldo Teixeira de Almeida, 50, presidente da Fetagri (Federação dos Trabalhadores na Agricultura).
A Fetagri é a entidade que representa os sindicatos e centraliza as táticas de invasão e negociações com o governo.
O MST conta com cerca de 2.700 famílias em sete acampamentos no Estado, incluindo o maior do país, em Itaquiraí (sul do Estado), com 2.163 famílias.
Diferente
Segundo Almeida, o MSTR se diferencia do MST por não realizar uma oposição sistemática ao governo federal.
"Nós queremos andar junto com o Incra", afirma Almeida, apesar de ressaltar que, em sua opinião, a reforma agrária promovida pelo governo está andando "a passos de jabuti".
Outra diferença, diz o presidente da Fetagri, é que o MSTR cadastra apenas trabalhadores rurais dos mesmos municípios onde ocorrem as invasões.
"Não transportamos gente de outras regiões", diz.
Segundo Almeida, o MSTR não incentiva invasões de terra e bloqueios de rodovias e pedágios, apesar de os sindicatos já terem realizado esses tipos de ações. "Quando acontece, damos apoio e orientação. Mas nunca estimulamos", diz.
O MSTR existe em todo o país desde a década de 60 -como uma consequência da criação dos sindicatos de trabalhadores rurais-, mas só no último ano e meio passou a intensificar invasões de fazendas no Estado do Mato Grosso do Sul.
O líder do MSTR em cada município é o próprio presidente do sindicato dos trabalhadores.
Central sindical
A Fetagri não é ligada a nenhuma central sindical, ao contrário da entidade que a representa em Brasília, a Contag (Confederação Nacional de Trabalhadores na Agricultura), que em 1995 filiou-se à CUT (Central Única dos Trabalhadores).
Outro dirigente da Fetagri, Leonardo Laurindo dos Santos, 34, disse que o responsável pelo aumento das invasões de propriedades rurais lideradas por sindicatos é o próprio presidente Fernando Henrique Cardoso.
"Quando ele fala que vai assentar 40 mil famílias num ano, os trabalhadores se organizam, com medo de perder a chance."
Santos admitiu que muitas das invasões organizadas pelos sindicatos ocorreram porque os trabalhadores temiam que as terras improdutivas fossem invadidas antes pelo MST.
"O Incra, ao cadastrar apenas famílias que estão acampadas, também acaba incentivando as invasões", explica Santos.
A pressão do MSTR tem feito com que o Incra também cadastre famílias que não estão embaixo dos barracos.
Táticas
Os dirigentes da Fetagri dizem que as estratégias do MSTR têm funcionado.
Eles afirmam que a maioria das 2.584 famílias assentadas pelo Incra em 12 projetos no Estado saiu de invasões realizadas pelo MSTR.
Na semana passada, o MSTR comemorava mais uma pequena vitória sobre o MST: 38 famílias deixaram um acampamento do "rival", em Bataiporã (sul do MS), e se filiaram ao sindicato local.

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