São Paulo, domingo, 24 de agosto de 1997
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Autoflagelação precede o punk

THALES DE MENEZES
DA REPORTAGEM LOCAL

Rock e violência sempre caminharam juntos. Uma das primeiras músicas da história do gênero, "Rock Around the Clock", do gorducho boa-praça Bill Halley, era tema do filme "Blackboard Jungle", de 1955, e provocou quebra-quebra em muitos cinemas pelos EUA.
Se o rock parece incutir em alguns garotos a vontade de bater nas coisas ou nos outros, é lógico que mais cedo ou mais tarde iriam aparecer uns caras com vontade de machucar o próprio corpo.
Estão enganados aqueles que pensam estar no movimento punk e suas alfinetadas o nascedouro da autoflagelação roqueira.
Em 1965, a banda de surf music "Sand Bankers" tinha um vocalista que açoitava as próprias costas com um chicote curto com tachinhas na ponta. O mais engraçado é que suas canções eram bobocas e românticas. Nada de violência.
Na entrada dos anos 70, Iggy Pop e seus Stooges já mostravam que não eram de brincadeira. O cantor chegou a tomar uma surra do guitarrista em um show em Seattle, levando golpes com o pedestal do microfone no meio do palco. Tudo em nome da arte.
Iggy foi um dos precursores do punk, que escancarou práticas sadomasoquistas como um complemento estético para sua sonoridade agressiva.
Alfinetes de fralda perfuraram muitos narizes, lábios e lóbulos. Outros preferiram decorar o corpo com cortes de giletes e lâminas diversas. Os mais corajosos optaram pelos pregos perfurados no corpo.
Os punks faziam para valer os gestuais que a turma do heavy metal já fingia anos antes.
Em 1973, na fusão do hard rock com o glitter, Alice Cooper montava um circo de horrores no palco, com torturas, autoflagelação e uma decapitação para encerrar bem o show. Tudo falso, muito risível.
Depois do furacão punk, algumas bandas pesadas também adotaram feridas verdadeiras. A banda texana "Holy Ground" teve um vocalista que arrancou, no palco, um dente da própria boca com alicate.
Os cavernosos integrantes do "Type O Negative", que devem tocar no Brasil este ano, são os reis atuais do gênero.
Os rapazes da banda costumam deixar os fãs cortá-los com giletes e canivetes. Depois, pedem que as garotas chupem o sangue e..., bem, aí a perversão já é outra.

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