São Paulo, domingo, 24 de agosto de 1997
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Tecnologia é arma para tentar evitar fraude

CÉLIA DE GOUVÊA FRANCO
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma das armas mais recentes das empresas de cartões de crédito para tentar combater as falsificações e fraudes é um novo programa de computador que identifica um perfil de compras de cada usuário de cartão.
Se o cartão é usado para uma compra que foge desse padrão, o sistema emite um sinal de alerta.
O Credicard está implantando atualmente esse sistema, mas não divulga dados sobre o programa.
O setor como um todo está investindo em novos programas de computador, equipamentos mais modernos e ações preventivas para reduzir fraudes.
Uma dessas ações é aumentar o controle sobre o envio dos cartões aos usuários, já que no final do ano passado foi constatada uma onda de furtos de cartões quando estavam sendo entregues pelos Correios.
As empresas também pretendem substituir todas as máquinas manuais de emissão de boletos por máquinas automáticas, muito mais seguras, até o ano 2000.
Nos próximos meses, será anunciado, por exemplo, um programa de premiação dos lojistas que conseguirem identificar um fraudador, à semelhança do que já existe em outros países, especialmente os Estados Unidos.
Rápido crescimento
Desde o início do Plano Real, está aumentando rapidamente o número de estabelecimentos comerciais que passaram a aceitar cartões.
Segundo a Abecs (Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços), hoje são 380 mil e a cada mês mais 15 mil são credenciados.
Uma parte das fraudes com cartões só ocorre porque conta com a participação direta de lojistas ou funcionários de estabelecimentos como postos de gasolina, restaurantes, bares, afirma Manoel Camassa, titular de uma das delegacias especializadas em crimes contra o patrimônio na cidade de São Paulo.
Além disso, em muitos dos crimes com cartões -classificada como estelionato, segundo a legislação brasileira- existe também a participação direta de funcionários de alguma das empresas do setor de cartões.
Desconfiança
Camassa cita o exemplo recente do gerente de uma agência bancária que desconfiou do pedido de um cliente -cujo saldo médio na caderneta de poupança era de R$ 50,00- para que o banco se preparasse para lhe entregar R$ 80 mil em dinheiro, que seriam transferidos para sua conta num determinado dia.
Com a ajuda da polícia, descobriu-se uma tentativa de fraude, feita por esse falso cliente do banco e uma funcionária de uma administradora de cartões, que usou os dados cadastrais de uma cliente.
Muitos dos fraudadores descobertos pela polícia acabam não ficando muito tempo presos porque pagam fiança, concedida pela maioria dos juízes, que levam em conta o fato de estelionatários não serem autores de crimes violentos.
Além disso, a legislação brasileira é mais leniente com quem pratica estelionato -em geral um crime mais refinado- do que com quem furta, explica Eduardo Muylaert Antunes, advogado criminalista.
A pena prevista para estelionato é de um ano de detenção, independentemente do prejuízo causado pelo criminoso, enquanto para furto é de dois a oito anos.
Além disso, o fato de esses chamados "crimes sem sangue" serem praticados usualmente por pessoas mais preparadas e de renda mais alta significa que em geral elas conseguem ter uma defesa melhor.

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