São Paulo, domingo, 24 de agosto de 1997
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A educação militar

ALFREDO TAUNAY

Nesse ano de 1861 assentei praça no Exército, como soldado do 4º batalhão da artilharia a pé, e sem inclinação abracei a carreira das armas, já por não ter meios de me reconhecer logo cadete, como acontecia com outros companheiros, já por não me sentir com propensão para essa penosa profissão. (...)
Em 1862, promovido, conforme esperava, alferes aluno, continuei os estudos no terceiro ano, muito chegado a um grupo de companheiros, Catão Augusto dos Santos Roxo, sobretudo, e mais Napoleão Augusto Muniz Freire, José Eduardo de Moura, José Clarindo Queiroz, o já citado João Batista Marques da Cruz, Marcos de Azevedo Souza, Vicente Polidoro Ferreira...
Ah! mas este precisa de menção especial.
Filho da cidade de Curitiba, capital da província do Paraná, de pronto atraía as vistas pela beleza, regularidade e simpática expressão de fisionomia. Os olhos, principalmente, franjados de espessos e recurvados cílios eram magníficos de meiguice extraordinária, a testa um tanto estreita, o nariz muito bem feito, embora pequeno demais, a cútis delicadíssima, o corpo em extremo elegante, mas ao mesmo tempo vigoroso na musculatura.
Quanto ao moral, preparado por começos de cuidada educação, no seio de família bem constituída e respeitada na província, distinguia-se por muita amenidade realçada por nobre franqueza e certa altaneria.
Inteligência bem notável, força de vontade, nobre ambição de aparecer, de ser alguma coisa, de não se confundir com todos, de sair pelo menos da mediania, tudo fazia crer em futuro brilhante a ente tão bem dotado pelo favor da fortuna.
Pelo Polidoro senti, desde que o vi, arrastamento muito vivo, repassado já de inveja dos triunfos escolares e até do seu piano, em que, contudo, não podia ombrear comigo, pois mal sabia rudimentos de música.
Pobre Polidoro, no que deram tantas esperanças próprias e tanta confiança de nós seus companheiros de todos os dias num porvir todo de alegrias e glórias? (...)
Em outubro de 1865, quando marchávamos para Mato Grosso recebi a notícia dessa morte. Tive imensa conturbação. Alta noite, na minha barraca de campanha, rememorei os mil incidentes da nossa vida de companheiros de estudos e chorei com amargura largas horas... Pobre mancebo, tão rijamente preparado para a luta pela vida!... (...)

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