São Paulo, domingo, 24 de agosto de 1997
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Vesúvio ameaça Nápoles

RICARDO BONALUME NETO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Assim como Los Angeles teme a chegada de um grande terremoto, Nápoles espera uma erupção do vizinho vulcão Vesúvio. Há cálculos recentes que indicam que uma erupção de tamanho médio ou grande poderá destruir tudo num raio de 7 km em torno do vulcão.
O tempo que seria necessário para produzir o desastre seria de só 15 minutos. E essa região é habitada por cerca de 1 milhão de pessoas.
O Vesúvio é o mais famoso vulcão do planeta, responsável por enterrar as cidades romanas de Pompéia e Herculano em 79 d.C., matando milhares de pessoas. Ele pode a qualquer momento, ou nos próximos séculos, fazer algo parecido com os napolitanos.
Os cientistas não têm como prever com certeza quando o Vesúvio poderá fazer um estrago desses. A última vez que ele matou milhares de pessoas foi em 1631, quando arrasou com outra cidade, bem menos conhecida, Torre del Greco. Mas a última erupção -de pequena intensidade- ocorreu não tão distante, em março de 1944.
A estimativa de 15 minutos foi feita com base em uma pioneira simulação de erupção feita em computador por três cientistas italianos -Flavio Dobran e Augusto Neri, ambos do Instituto Nacional de Geofísica, de Roma, e Micol Todesco, da Universidade de Pisa.
"Simulações indicam que futuras erupções explosivas terão efeitos catastróficos para centenas de milhares de pessoas que vivem ao longo das encostas, a menos que planos eficazes de evacuação e estradas sejam feitos e pessoas comecem a deixar a área", dizem.
Para avaliar riscos de uma renovada atividade do Vesúvio, é preciso estudar sua história, na tentativa de reconstruir seus padrões de comportamento. O problema é que ele teve um comportamento bem variado. Houve explosões catastróficas, mas também momentos em que só expeliu lava, rocha liquefeita pelo calor (curiosamente, a palavra vem do dialeto napolitano, significando uma "torrente que lava o solo").
O estudo das erupções dos últimos 17 mil anos indica que há uma relação entre a duração do intervalo de repouso do Vesúvio e a intensidade da explosão seguinte. Isso acontece porque a "matéria-prima" que o vulcão lança nas explosões, rocha derretida chamada magma, se acumula continuamente numa câmara subterrânea.
A incômoda presença desse vizinho instável foi a causa da fundação do mais antigo observatório vulcanológico do mundo, o Observatório do Vesúvio, localizado em Nápoles. Uma bateria de instrumentos, como sismógrafos e inclinômetros, permanece atenta 24 horas por dia em busca do menor sinal de atividade, coisas como tremores, deformações do vulcão, emissão de gases. Os dados são repassados para as autoridades municipais, que decidem sobre uma eventual evacuação. O dilema, porém, é saber qual sinal é de fato precursor de uma grande erupção.

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