São Paulo, domingo, 24 de agosto de 1997 |
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Uma erupção à italiana
MAURICIO STYCER
A erupção, na verdade, começou em 13 de dezembro de 1991, quando foi constatada a abertura de uma fenda de um quilômetro de comprimento, a 2.700 metros de altura, na cratera sudeste do Etna. Nada se fez a respeito por quatro meses, até que, no dia 11 de abril, a Itália descobriu que a lava vinha descendo lenta, mas constantemente do Etna e que estava a apenas 150 metros das primeiras casas da pequena cidade de Zafferana (Sicília). Foi um Deus nos acuda. Primeiro, o Exército italiano ergueu três barreiras com terra, entre Zafferana e o vulcão, mas elas foram logo superadas pela lava. Em seguida, o governo decretou estado de emergência na região e começou a tomar providências para evacuar a cidade, mas a população se recusou a sair. No dia 13 de abril, ocorreu a grande batalha contra o vulcão. Soldados italianos e fuzileiros navais norte-americanos atacaram o Etna com explosivos e blocos de concreto -e nada aconteceu. O bombardeio ocorreu em duas etapas -ambas fracassadas. Primeiro, 500 kg de explosivos foram detonados sobre um canal de lava endurecida que conduzia lava incandescente do vulcão à cidade. Depois, helicópteros da base americana de Sigonella despejaram cinco blocos de concreto (de duas toneladas cada) na tentativa de deter a lava. Resultado: zero. A essa altura, o então ministro da Defesa Civil da Itália, Nicola Capria, falava as frases que deliciavam os jornalistas, como a que usou para explicar o fracasso do bombardeio: "As paredes (que levam a lava) são tão espessas quanto as de um bunker antiatômico". Outra grande frase de Capria foi dita ao anunciar que o fracasso da primeira operação militar contra o Etna não desanimaria os italianos: "O mundo nos observa. Devemos dar um exemplo de eficiência". No dia seguinte, 14 de abril, a lava do Etna finalmente chegou a Zafferana, entrando pelos fundos da casa de Giuseppe Fichera. Irritado com a demora do governo em agir para impedir a chegada da lava, Fichera montou uma cena para os fotógrafos: pichou a parede externa da casa com a frase "Obrigado governo" e deixou uma mesa, com toalha branca, garrafa de vinho e pão, para o vulcão. Naquele mesmo dia, sobrevoando de helicóptero a pequena Zafferana, o crítico de arte e deputado Vittorio Sgarbi declarou que a lava não faria mal se destruísse a cidade toda, porque "as casas daqui são muito feias". Foi agredido e teve de deixar Zafferana escoltado. Enquanto o irônico Giuseppe Fichera via sua casa ser destruída pela lava, o Exército italiano comemorava sua primeira vitória. Um novo bombardeio naquele dia abriu o canal que conduzia a lava, fazendo-a perder força e direção e deixando de ameaçar Zafferana. Texto Anterior: Vesúvio ameaça Nápoles Próximo Texto: Busca de resultados pode prejudicar pesquisa em genética Índice |
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