São Paulo, domingo, 24 de agosto de 1997
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Pelo voto, Oviedo se aproxima do governo

FERNANDO GODINHO
ENVIADO ESPECIAL A ASSUNÇÃO

Um ano e quatro meses depois de uma frustrada tentativa de golpe no Paraguai, o general reformado Lino Oviedo tem grandes chances de conquistar a Presidência por meio do voto.
Pré-candidato do Partido Colorado (que governa o Paraguai há 50 anos), Oviedo lidera ou divide o primeiro lugar das diversas pesquisas referentes às eleições internas, marcadas para 7 de setembro.
Com 988,6 mil eleitores inscritos, o Partido Colorado é a maior força política do país -as oposições têm cerca de 810 mil eleitores inscritos. A eleição presidencial acontece em maio do ano que vem.
Em entrevista exclusiva, o general demonstrou um discurso populista: criticou os EUA e considerou seus adversários "oligarcas".
Ele atacou o embaixador do Brasil no Paraguai, Márcio de Oliveira Dias, que apoiou o presidente Juan Carlos Wasmosy contra a tentativa de golpe de Oviedo e recentemente criticou o livro do general com sua versão sobre o episódio.
"Se eu assumir a Presidência, jamais o manterei aqui." Procurado pela Folha, o embaixador preferiu não se pronunciar. A seguir, os principais trechos da entrevista.
*
Folha - Em 1996, houve uma grande reação contra o sr. por parte do Mercosul e dos EUA. Como governar com tanta resistência?
Lino Oviedo - Não tenho um mau relacionamento com o Mercosul, que sabe que não houve um tentativa de golpe. O que aconteceu foi que eu não concordei com o fechamento do Congresso proposto pelo presidente Wasmosy. Acho que a influência dos EUA na política paraguaia me beneficia, pois o eleitor poderá decidir entre candidatos ianques e um candidato paraguaio. Os EUA não podem nos transformar em uma TV, comandada por controle remoto.
Folha - Mas permanece a versão de que o sr. tentou um golpe.
Oviedo - Vou dar meu primeiro golpe no dia 7 de setembro, nas internas do Partido Colorado. Vai ser o meu grito do Ipiranga. O segundo golpe será nas eleições do dia 10 de maio do ano que vem.
Folha - Como o sr. se relaciona com o embaixador Márcio Dias?
Oviedo - Estou em total desacordo com esse senhor, pois ele cometeu um delito. Ele disse que Oviedo não pode ser presidente do Paraguai porque não é um democrata. Isso é uma intromissão nos assuntos internos. Ele também criticou meu livro, dizendo que é uma desordem mental. Se eu assumir a Presidência, jamais o manterei como embaixador do Brasil. Qualquer um, menos ele.
Ele se reuniu com forças políticas deste país, incitando-as a convencer o presidente Wasmosy a atuar contra minha candidatura. Imagine se o embaixador paraguaio no Brasil diz que Lula deve ser presidente porque Fernando Henrique Cardoso está velho e não pode ser eleito mais uma vez. O Itamaraty o retiraria de imediato.
Folha - Seu eleitorado está concentrado nas faixas mais pobres e menos escolarizadas da população. O sr. fala inglês e alemão e estudou na Europa e nos EUA. Como explicar essa diferença?
Oviedo - Pobreza e ignorância são causas dos direitos humanos, que é a razão da minha candidatura. Meus adversários são oligarcas: não falam guarani e não se preocupam em conhecer o país. O Paraguai foi próspero quando teve gente do povo no poder.
Folha - O sr. concorda com a despolitização das Forças Armadas?
Oviedo - Estou totalmente de acordo. Nenhum componente das forças públicas de segurança deve fazer atividade política. Também por ética, os ministros devem renunciar a seus cargos se querem fazer política. Sou mais civilista e mais civilizado que muitos civis.
Folha - Wasmosy teria se reunido com os comandantes militares para discutir como desestabilizá-lo.
Oviedo - Isso é lamentável. Essa reunião aconteceu na residência oficial, um patrimônio público. Ele convocou oito governadores, comandantes das Forças Armadas, da Polícia Nacional e o seu candidato, Carlos Facetti.
Esse é o único país onde o presidente é o chefe da campanha de uma corrente interna de um partido. O seu candidato usa aviões, segurança, prédios públicos. Eles crêem que ainda estão em uma ditadura. Os funcionários públicos são perseguidos se não usam adesivos da candidatura oficial.
Folha - Caso o sr. ganhe as internas, enfrentará uma aliança da oposição. É possível derrotá-la?
Oviedo - Essa aliança é um erro político, pois a soma dos votos desses partidos é insuficiente para derrotar-me. Já fui presidente de um clube de futebol e consegui jogadores de outros times. Eles ficaram brigando como gatos e cachorros e não ganharam nada. Isso acontece com a aliança, que já está disputando cargos e ministérios. E olha que eles ainda não começaram a disputar as eleições.

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