São Paulo, domingo, 24 de agosto de 1997
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Disputa pela máquina é essencial no país

NEWTON CARLOS
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Quatro dias antes do aniversário do fracassado golpe chefiado por ele, a 22 de abril do ano passado, o general Lino Oviedo viveu um momento de triunfo. Pesquisa publicada pelo "ABC Color", de Assunção, colocou-o à frente dos vários aspirantes a candidatos presidenciais em 1998, com o índice de 25,1%, considerado "altamente significativo" pelos analistas.
No mesmo dia, no entanto, decisão da Suprema Corte mostrou que as complicações de Oviedo com a Justiça, apesar da sua libertação, continuavam de pé e as "evidências" contra ele, apresentadas pelo governo, se mantinham juridicamente vigentes.
O general já havia se metido de corpo e alma em sua nova carreira de político, de modo beligerante, como é de seu feitio, mas sem abdicar da sua militância no partido Colorado, no qual lidera a facção União Nacional de Colorados Éticos, cuja sigla (Unace) soa como um slogan ("una-se").
A máquina colorada, disputada a ferro e fogo, é essencial às ambições de Oviedo, embora ele se afirme em condições de ir em frente levado pela sua popularidade. Num de seus rompantes, ameaçou colocar nas ruas "mais de 100 mil camponeses" e todos os militares "de coronel para baixo", em apoio a ele, se houver obstáculos à sua candidatura.
O povo se rebelará, garantiu, e os militares "deixarão os quartéis para pedir a deposição do presidente Juan Carlos Wasmosy". Observadores veteranos do vulcão paraguaio duvidam. A prática mostra que os oficiais se "realinham" com a posse de novos comandantes. O da Marinha, almirante Guillermo Lopez Moreira, apressou-se em afirmar que "as Forças Armadas eram uma coisa antes do 22 de abril de 1996 e depois da crise, como a saída do general Oviedo, se tornaram em definitivo outra instituição".
O próprio Wasmosy, lembrando o golpe fracassado, proclamou que "desde então o país vive em grande tranquilidade, não há sobressaltos e ninguém faz maluquices". O fato, no entanto, é que a sombra de Oviedo pesa, e muito, nas brigas internas do Partido Colorado e seleção do candidato oficial.
O vice-presidente Angel Roberto Seifart acusou Wasmosy, já envolvido em denúncias de corrupção derrubadas na Justiça, de no passado haver conspirado contra ele com Oviedo e de agora "coordenar interesses" e negociar aliança com Luis María Argaña, que a duras penas se elegeu líder colorado.
Ele trata Wasmosy, com intenções pejorativas, de "empresário que se tornou presidente". O aparato do Estado ficaria com Argaña. Wasmosy e Argaña deram versões diferentes sobre a impossibilidade de acordo entre os dois.
O presidente acha que o candidato ideal para o partido Colorado é seu ministro das Finanças, Carlos Facetti, também sócio em negócios. Argaña não só quer ser candidato ele próprio como critica a política econômica do governo, avisando que ela pode prejudicar eleitoralmente o Partido Colorado.
Talvez seja melhor para o partido "ir em frente sem o governo, sem ter de dividir responsabilidades por fracassos", desabafou Argaña. O que nenhum colorado pode ignorar é que a oposição encontrou o caminho da unidade e o partido oficial não se pode dar ao luxo de ir às urnas todo quebrado.
Nas eleições de 1996, a coligação do Partido Liberal Radical Autêntico com o Encontro Nacional elegeu o economista Martim Burt prefeito de Assunção, a capital paraguaia. "Rejeição definitiva do stroessnerismo", comemorou Burt. Stroessnerismo seria a marca ainda não apagada do ditador Alfredo Stroessner nos colorados.

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