São Paulo, domingo, 24 de agosto de 1997
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AS MÚLTIS E O DÉFICIT

A temporada de especulação cambial no Sudeste Asiático foi muito além da Tailândia e extrapolou os limites da região, chegando à África do Sul. Aumentam as preocupações com a extensão do contágio.
Cada informação, cada diagnóstico, nesse contexto, merece consideração e exame cuidadosos.
A Sociedade Brasileira de Estudos sobre Empresas Transnacionais e Globalização (Sobeet) divulgou estudo mostrando que as exportações de produtos industriais realizadas por empresas multinacionais no Brasil reduziram-se em 1996.
Do Instituto de Economia da Unicamp veio outro dado, revelando que o investimento estrangeiro no Brasil pode estar enviesado para a produção de bens de consumo sem potencial exportador.
Os dois trabalhos se completam e de certa forma desafiam a crença oficial na recuperação das exportações a partir do investimento estrangeiro.
Nas economias do Sudeste Asiático consagraram-se modelos exportadores e, ainda assim, não foi possível evitar o realinhamento cambial. Ao mesmo tempo, corrigidas as taxas de câmbio, é razoável supor que aquelas economias, aparelhadas para exportar, reconquistarão mercados externos e voltarão a crescer.
Mas, se a crise asiática vem depois de um ciclo de investimentos para a exportação, no Brasil esse ciclo mal se inicia e já enfrenta uma taxa de câmbio que, até o governo reconhece, é desfavorável aos exportadores.
O governo brasileiro aposta nos ganhos de eficiência da privatização e na modernização trazida pelas empresas estrangeiras para diminuir as necessidades de importação do país e, assim, reduzir o déficit comercial.
Quanto mais difícil for aumentar as exportações, maiores os ganhos de eficiência necessários -e estes levam tempo. Tempo que, depois da epidemia asiática, parece exíguo.

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