São Paulo, terça-feira, 26 de agosto de 1997
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Formação de civis é curta e superficial

DA REPORTAGEM LOCAL

A Academia de Polícia Civil de São Paulo está sob nova direção. A promessa é que todos os cursos serão reestruturados.
Ex-alunos, que pedem para não ser identificados, são bastante críticos ao treinamento que receberam no passado: os cursos são curtos e superficiais, defasados do ponto de vista teórico e técnico, pouco práticos e distantes da realidade do policial.
Os futuros policiais são admitidos por meio de concurso público, com exigência de nível superior para delegados (direito), médico-legista (medicina) e perito (a depender de sua especialidade).
Também há cursos para investigador de polícia, escrivão e agente policial, entre outros. Ao todo, são 14 carreiras na Polícia Civil.
Para cada carreira, há um curso específico, mas os ex-alunos reclamam da abrangência do currículo em relação ao tempo disponível.
Em apenas três meses (cerca de 420 horas-aula), um futuro delegado, por exemplo, cursa pelo menos 24 disciplinas, tão diferentes entre si como direito constitucional e medicina legal, estatística e polícia judiciária, direitos humanos e tiro.
Também a falta de estrutura e de recursos prejudica o curso. A Folha apurou que cada aluno, por exemplo, só pode dar 12 tiros durante o treinamento.
Disciplinas técnicas como investigação policial ou perícia são ensinadas de maneira pouco prática e defasada. Não há estágios em delegacias ou institutos.
Além disso, os cursos só acontecem quando há abertura de novas vagas e são apressados por causa da urgência em preenchê-las.
Parte das críticas são aceitas pelo novo diretor da academia, o delegado Tabajara Novazzi Pinto, 49, há três meses na função.
"A Polícia Civil está um passo atrás da comunidade e a Academia de Polícia não foge à regra", diz. Ele considera "deletéria" a pressa em formar o policial e dá exemplos do baixo nível de profissionalismo: não há um manual de instrução para o policial. "O diálogo entre um policial e um sequestrador, por exemplo, é totalmente empírico. Ele aprende aos trancos e barrancos", diz.
Além da reestruturação do currículo, com a inclusão de matérias optativas como ioga e tai-chi- chuan, "para sensibilizar o policial", Pinto criou um fórum permanente de direitos humanos.
Também foi assinado convênio com a Universidade de São Paulo, vizinha à academia, que permite o acesso dos PMs à USP. "Há planos de instalar uma delegacia-modelo na Cidade Universitária", diz.

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