São Paulo, terça-feira, 26 de agosto de 1997
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Médicos divergem sobre caso de gestante

DA REPORTAGEM LOCAL

Alguns especialistas ouvidos pela Folha divergem sobre a realização da interrupção de gravidez no caso da auxiliar de cozinha M.L.D.
Todos eles, no entanto, confirmam que há risco de malformação fetal por causa do tratamento quimioterápico aplicado à mãe.
Para ele, a vontade da mãe deve ser obedecida. "Ela deve ir à Justiça já. Senão, terá de esperar até a 20ª semana de gestação para confirmar se há malformação. O aborto deve ser feito antes, desde que se possa pressupor um risco maior."
Souen diz que, em geral, os médicos não indicam o aborto em mulheres que tiveram câncer e estão curadas.
"Está provado que, nesses casos, o aborto não aumenta a sobrevida da mãe. Se M. fizer o aborto, deverá ser pela probabilidade de o feto ter sido afetado."
O professor de mastologia da Faculdade de Medicina da USP Roberto Hegg tem dúvidas quanto ao procedimento no caso de M.
"Se ela foi tratada e está bem, pode engravidar normalmente", diz. Ele afirma que a quimioterapia realmente pode afetar o feto. "A situação é preocupante, mas não há respaldo legal para o aborto nesses casos."
Para o vice-presidente do departamento de cancerologia da Associação Paulista de Medicina, o aborto deve ser feito desde que venha a trazer um prejuízo para o feto. Ele não acredita que a gravidez seja um risco de vida para a mãe.
"O fato de ela ter interrompido tratamento faltando duas sessões de quimioterapia não chega a ser um risco iminente de a doença voltar. Ela deveria estar praticamente curada."
A oncologista que tratou de sua doença, Maria Custódia dos Santos, disse que encaminhou M. a um pré-natal de alto risco, para que o desenvolvimento fetal fosse acompanhado. "Se fosse confirmada a malformação, ela poderia pleitear o aborto", diz.
Mas M. não aceitou. "Preciso resolver logo a situação. Se esperar muito, não poderei mais fazer o aborto. E estou passando por tudo isso porque tenho medo de cair nas mãos de uma clínica clandestina, o que seria mais fácil."
O diretor do hospital Jabaquara, Thomaz Antonio Cardoso de Almeida, diz que a realização do aborto será uma decisão médica. "M. não deixa de correr risco de vida com a possibilidade de o câncer voltar. Eu, pessoalmente, acredito que, por causa disso, a comissão tem uma tendência de votar favoravelmente à interrupção."

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