São Paulo, terça-feira, 26 de agosto de 1997
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Unicamp 'libera' médicos para abortos

DA FOLHA CAMPINAS

O superintendente do Caism (Centro de Assistência Integral à Saúde da Mulher), Luiz Carlos Zeferino, 42, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), disse que vai liberar o corpo clínico da unidade para optar por fazer ou não abortos em mulheres que corram risco de vida ou que tenham fetos malformados com pouca possibilidade de vida após o parto.
Segundo Zeferino, no entanto, se algum médico do centro deixar de fazer a intervenção cirúrgica para interrupção da gravidez, outro poderá efetuar o aborto em seu lugar.
"A tecnologia, hoje, permite prever antecipadamente os casos de crianças sem cérebro, em que os bebês morrerão logo após o parto", disse.
O Caism é o único hospital de Campinas (99 km de São Paulo) que realiza abortos legais desde 91.
Zeferino considerou retrógrada a posição da Igreja Católica, que se manifestou pela desobediência civil caso seja aprovado o projeto de lei que obriga os hospitais credenciados ao SUS (Sistema Único de Saúde) a atender aos casos de aborto previstos no Código Penal.
"Nos casos previstos em lei, não só o Caism, mas toda a rede, deveria realizar os abortos", afirmou.
A prática de aborto pelo Caism, no entanto, está sendo investigada pela Polícia Civil de Campinas em inquérito aberto em 94, concluído em 95 e reaberto em julho deste ano, por falta de provas.
O hospital Celso Pierro, pertencente à PUC-Camp (Pontifícia Universidade Católica de Campinas), informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que prefere não se manifestar.
O padre José Antonio Trasferetti, 40, da Pastoral da Mulher Marginalizada e professor de Teologia Moral da PUC-Camp, disse que é contra o aborto em qualquer circunstância.
"Quando o médico não consegue salvar as duas vidas, por ser indefesa, a vida da criança é sempre prioritária", disse Trasferetti.
O padre disse ainda que há o risco de esta lei se tornar "um precedente para legalizar o aborto em todos os casos".
Já a delegada da Delegacia da Mulher de Campinas, Teresinha de Carvalho, acha que a lei nem precisaria existir. "No caso de estupro, este já deveria ser um direito da vítima há muito tempo."

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