São Paulo, sexta-feira, 29 de agosto de 1997
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Especialistas vêem fracasso em reformas

ANTONIO CARLOS SEIDL
DA REPORTAGEM LOCAL

Ao pedir a prorrogação da CPMF, o governo reconheceu seu fracasso na condução das reformas estruturais mais importantes para a redução do déficit público -as reformas tributária, administrativa e previdenciária-, segundo avaliação de investidores estrangeiros.
Paulo Leme, economista-chefe do banco de investimentos norte-americano Goldman Sachs, em Nova York, disse que a prorrogação do "imposto do cheque" não é uma solução satisfatória para o problema do ajuste fiscal.
Leme fez essa declaração ao comentar o envio pelo governo ao Congresso, anteontem, de projeto de lei que prorroga por 11 meses, até janeiro de 1999, a cobrança da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira).
"Isso mostra que não houve progresso das reformas em âmbito fiscal."
Leme disse que nota um questionamento dos investidores estrangeiro em relação ao Brasil: "Os investidores estão fazendo um balanço final do governo Fernando Henrique Cardoso, revelando um certo desencanto com a lentidão dessas três reformas".
Segundo Leme, há um consenso no mercado externo de que, se as reformas saírem, "porque ainda não está claro se vão sair neste governo", elas ficarão aquém do que deveria ter sido feito para consolidar o Plano Real.
Os investidores, afirmou, consideram que o aspecto mais positivo desse balanço é o progresso do programa de privatização.
"Isso vem a calhar porque as necessidades de financiamento externo do Brasil serão muito altas neste ano e no ano que vem, e a possibilidade de um grande avanço em matéria fiscal é muito pequena, apesar dos esforços na reestruturação das finanças dos Estados", disse.
Investimentos
Hermann Wever, presidente da Siemens, disse que a CPMF deveria ser eliminada porque se trata de um imposto em cascata que atinge vários segmentos da economia e, indiretamente, as exportações porque afeta a competitividade dos produtos brasileiros.
O presidente do grupo alemão no Brasil lembrou que a carga tributária era de 24% do PIB (Produto Interno Bruto, a soma das riquezas do país) antes do Plano Real e que este ano será de 31%.
"Isso mostra que houve mais fiscalização da arrecadação e maior disciplina fiscal, mas seria alvissareiro se, com isso, o déficit público tivesse sido eliminado."
Wever concorda com a avaliação da maioria dos investidores estrangeiros, segundo a qual a solução para o déficit público brasileiro são as reformas.
"Temos que introduzir rapidamente as reformas administrativa, tributária e previdenciária para podermos eliminar esse déficit e não ficarmos dependentes de uma CPMF para fechar as contas do governo."
Preocupado com o desequilíbrio das contas públicas e o déficit comercial, Hermann Wever destacou, porém, um aspecto positivo que permite a manutenção do Plano Real: a confiança dos investidores estrangeiros.
Ele informou que a Siemens acaba de fazer um prognóstico sobre a entrada no país de investimentos diretos estrangeiros (capital que segue para a produção e não para o mercado financeiro).
Segundo a Siemens, o fluxo de investimentos diretos alcançará o nível de US$ 14 bilhões este ano e uma média anual de US$ 18 milhões de 1998 a 2000.
Stephan Krier, cônsul-geral adjunto da República Federal da Alemanha em São Paulo, analisando as perspectivas da economia brasileira do ponto de vista alemão, disse que o sucesso do desenvolvimento econômico do Brasil dependerá das reformas tributária, previdenciária e administrativa.
Para Krier, sem "a imposição dessa obra de reformas num período adequado", o Brasil dificilmente poderá se adaptar às novas condições da economia mundial.
"E sem essas reformas não será possível manter no nível atual os investimentos externos tão necessários para o Brasil".

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