São Paulo, sexta-feira, 29 de agosto de 1997
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Ser ou não ser

JANIO DE FREITAS

A vacilação hamletiana de Luiz Inácio Lula da Silva, entre ser ou não ser candidato à Presidência da República, é compreensível do ponto de vista pessoal, mas parece desastrosa do ponto de vista político. É uma indefinição que, ao se projetar sobre o PT, aumentou a tendência da oposição a se perder em fragmentações e disputas enfraquecedoras.
O PT e o próprio Lula estão hoje em posição menos favorável, para a competição pela Presidência, do que estiveram em 90 e 94. O partido e sua figura principal padecem os efeitos do seu retraimento nos últimos anos, mais acentuando o desgaste, inclusive entre as demais forças de oposição, decorrente do insucesso ainda maior na segunda do que na eleição presidencial anterior.
Fosse para concorrer com candidato próprio ou em uma frente montada em torno de um candidato do consenso oposicionista, o PT precisava começar a articulação de alianças e a reanimação popular com grande antecedência, dado o trabalho maior exigido por seu enfraquecimento relativo. Deu-se o oposto.
Dependente da definição de Lula, o PT ofereceu tempo, espaço e motivo para a proliferação de projetos individuais e de pequenos grupos, todos, apesar das diferentes potencialidades, perturbadores da "aliança ampla" a que Lula condicionou sua candidatura e que lhe parece ser a condição, também, para a oposição tornar possível sua vitória.
Nos últimos dias, Tarso Genro confirmou sua indicação, em conversa privada com Lula, como candidato do PT, e Lula, por sua vez, confirmou não desejar candidatar-se. Ainda assim, o PT inicia hoje seu Encontro Nacional sem prenúncio de definição entre a corrente que admite a protelação continuada, se isso convier à decisão de Lula sobre sua candidatura, e a corrente que defende a indicação imediata de um candidato.
Essa definição é que tem importância política, é que projeta efeitos sobre o desenvolvimento do processo sucessório e sobre o comportamento, nele, das oposições partidárias e populares. O resto -a divisão ideológica, o confronto grupal e não sei que mais- são problemas internos do partido, com expressão que, se houver, fica aquém ou além da disputa eleitoral.

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