São Paulo, sexta-feira, 29 de agosto de 1997
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Vergonha para a saúde

RICARDO VERONESI

"Aqueles que não conhecem a história de seu país estarão condenados a repeti-la."
Santayanna, filósofo americano

Há 36 anos, em 1961, introduzimos a vacina contra o sarampo em São Paulo e no Brasil. Foram cerca de mil crianças, dentre elas nossa filha Tania, que participaram dessa experiência pioneira na prevenção vacinal do sarampo em nosso país.
De acordo com os levantamentos epidemiológicos que realizamos então, dizíamos: "Em nosso país, ao menos no Estado de São Paulo, a vacinação em massa de crianças de baixo nível socioeconômico está indicada a partir do quinto mês de idade, considerando que 50% das mortes por sarampo no primeiro ano de vida ocorrem dentro dos sete primeiros meses". E, numa antevisão do que iria suceder 30 anos após, dizíamos: "Em qualquer país desenvolvido, por muito menos se mobilizaria toda a nação para enfrentar o problema". Na Suécia, em 1960, caiu um ministro da Saúde porque não soube justificar a morte indevida de uma criança por tétano.
Uma única morte indevida, por doença prevenível, é suficiente para convocar o Parlamento de países desenvolvidos e afastar os responsáveis pelo acontecimento. Aqui... são todos condecorados no dia 15 de novembro.
Albert Sabin, após ter conseguido erradicar a poliomielite dos países que utilizavam a vacina oral por ele desenvolvida, resolveu dedicar-se à prevenção do sarampo, nos seus últimos anos de vida, e veio ao Brasil, a nosso convite, para realizar conosco experiências com uma vacina contra o sarampo administrada por aerossol, pela via respiratória, a fim de aliviar os insucessos de vacinação com vírus vivos atenuados em crianças de menos de 12 meses de idade.
Realizamos a experiência com Sabin, em Itajubá, Minas Gerais, em 1985, com resultados bem-sucedidos. Em 17 de janeiro de 1990, Sabin nos entregava minucioso relatório sobre análise das campanhas de vacinação realizadas em São Paulo, no período de 1980 a 1986, onde fazia graves acusações à Secretaria da Saúde de São Paulo, pela descontinuidade da vacinação e por coberturas inferiores àquelas anunciadas.
E, mais uma vez, como aconteceu com a varíola na década de 70, o Brasil é, em 1997, um dos últimos redutos do sarampo nas Américas, segundo denuncia a Organização Pan-Americana de Saúde. A denúncia foi feita pelo brasileiro Ciro Quadros, diretor do Programa Especial de Vacinas da Opas.

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