São Paulo, sexta-feira, 29 de agosto de 1997
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Número de abortos da rede pública cai 27%

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
DA REPORTAGEM LOCAL

O número de abortos realizados em hospitais que prestam atendimento público e gratuito caiu 27% entre 1992 e o ano passado, em todo o país. É um indicativo de que a prática do aborto como método contraceptivo está em declínio no Brasil.
No conceito de aborto estão desde a perda natural do bebê até o atendimento a mulheres que induziram o parto para interromper a gravidez e acabaram tendo sequelas, precisando de atendimento.
Os dados do Ministério da Saúde mostram que o pico de abortos realizados na rede hospitalar do SUS (Serviço Único de Saúde) ocorreu em 1992: 345 mil. Desde então, esse número vem diminuindo. Em 1996, foram 253 mil.
As informações estão disponíveis na homepage do Datasus na Internet (www.datasus.gov.br).
A tendência de queda prossegue este ano. Nos primeiros seis meses de 1997, a rede do SUS atendeu 119 mil mulheres em processo abortivo. No primeiro semestre do ano passado esse número foi maior: 127 mil.
A principal hipótese para explicar a diminuição da prática do aborto é a queda da fecundidade no Brasil. Cada vez mais mulheres estão procurando evitar a gravidez por esterilização ou pílulas.
Essa explicação foi dada à Folha, separadamente, por duas pesquisadoras do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada): Lena Lavinas e Ana Amélia Camarano.
"Cerca de 45% das mulheres brasileiras casadas e em idade fértil (15 a 49 anos) estão esterilizadas, logo não precisam mais usar o aborto como contraceptivo", diz Lena, que é economista.
Além disso, ela levanta a possibilidade de estar havendo um uso maior de outros métodos anticoncepcionais, como por exemplo preservativos (por causa da Aids).
A diminuição da fecundidade foi a principal causa da redução do crescimento populacional do país nesta década.
Demógrafa, Ana Amélia diz que o número de filhos por mulher caiu em todas as faixas etárias, menos entre as jovens. No grupo de mulheres de 15 a 24 anos, a gravidez é crescente. "Muitas vezes, é uma gravidez indesejada", diz.
Isso tem reflexos no perfil das mulheres que procuram os hospitais do SUS para abortar. A maior taxa de abortos em relação à população está na faixa dos 20 a 29 anos: 8,6 mulheres abortam por ano em cada grupo de mil.
Entretanto, a taxa é muito alta também entre as adolescentes. De cada mil meninas de 15 a 19 anos, 6,2 procuram os hospitais do SUS para fazer um aborto todo ano.
Lena Lavinas atribui o problema à precocidade sexual, à desinformação e a uma maior frequência de relacionamentos sexuais que essas adolescentes têm hoje.

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