São Paulo, sexta-feira, 29 de agosto de 1997
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Procedimento é ético, diz médico que faz

MALU GASPAR
DA REPORTAGEM LOCAL

"Faço aborto com o mesmo respeito com que faço uma cesárea. É um procedimento tão ético como uma cauterização" A afirmação é do médico G., que faz abortos em uma clínica de São Paulo.
Ele considera o aborto um direito da mulher que deve ser respeitado, e diz que faria aborto na própria filha, se fosse necessário.
Na clínica, o aborto custa, em média, R$ 1.000, mas ele afirma que já interrompeu gravidez de graça para clientes sem condições financeiras. Segue entrevista.
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Folha - Por que o sr. faz aborto?
G. - Faço porque acho que deve ser da mulher o direito de decidir sobre o seu próprio corpo, com condições adequadas para isso. Se nos países de Primeiro Mundo são médicos que fazem aborto, por que aqui as mulheres têm de se submeter a gente de todo o tipo? Só no oitavo mundo não se interrompe uma gravidez quando se sabe que o feto vai morrer, por exemplo. Nesses casos, a mulher vira uma sepultura viva.
Folha - Qual é o perfil das pessoas que procuram sua clínica?
G. - Vem muita gente que não tem dinheiro para sustentar o filho, mas também muitas adolescentes e mulheres casadas. Em todos os casos, tento saber por que a gravidez é inoportuna. Se a pessoa não tiver dinheiro, negocio e até faço de graça.
Folha - Em que condições o senhor não aceita fazer a cirurgia?
G. - Quando vejo que a pessoa ainda não se decidiu ou quando vejo que a gravidez já está muito avançada.
Folha - A sua clínica tem outros serviços. Como as pessoas daqui lidam com o fato de o senhor fazer aborto?
G. - Aqui, isso é um dos vários procedimentos que fazemos. Para mim, o aborto é um procedimento tão ético quanto a cauterização.
Folha - O senhor faria o aborto de sua própria filha?
G. - Faria, se ela considerasse a gravidez inoportuna por algum motivo. Eu mesmo já fiz sete abortos de namoradas minhas que não podiam sustentar a gravidez.

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