São Paulo, sexta-feira, 29 de agosto de 1997
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Karim Dridi prova que tem algo a dizer

CELSO FIORAVANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

O público brasileiro está tendo a grande chance de conhecer a ainda curta -mas já potente- cinematografia do diretor franco-tunisiano Karim Dridi.
"Bye Bye", em cartaz no Espaço Unibanco de Cinema, trata da fuga de um garoto imigrante que se recusa a voltar para a Tunísia e se envolve com o submundo criminoso de Marselha. "Pigalle", disponível nas locadoras, faz um retrato humano do submundo das drogas, prostituição, pornografia e criminalidade no homônimo bairro parisiense.
Durante as filmagens de seu terceiro longa, "Hors-Jeu" (Fora de Jogo), Dridi concedeu entrevista por telefone à Folha. Falou sobre seu novo filme e de seu interesse pelo cinema do inglês Ken Loach e por pessoas com problemas.
*
Folha - O que você fez depois de seus dois primeiros longas-metragens, "Bye Bye" e "Pigalle", ambos rodados em 1995?
Karim Dridi - Termino de rodar meu novo filme em uma semana. Estou em plena filmagem. Se chama "Hors-Jeu", que é uma expressão que pode ser usada em futebol, para designar um jogador em impedimento, mas que pode ser usada também no cotidiano, para identificar pessoas que estão no jogo ou fora dele.
Folha - Quem está no elenco?
Dridi - Atores conhecidos, como a espanhola Rossy de Palma e os franceses Patrick Bruel e Miou Miou, além de atores desconhecidos, como Phillipe Ambrosini, que atuou também em "Bye Bye".
Folha - Qual é o argumento?
Dridi - É sobre atores desconhecidos que mantêm como reféns um grupo de atores famosos, que interpretam suas próprias vidas nesse filme.
Folha - É um método misturar atores desconhecidos e famosos?
Dridi - Não é um método, mas acho mais fácil trabalhar com pessoas sem experiência.
Folha - Seus dois filmes anteriores fala de população marginalizadas. Você acredita que o cinema pode se tornar um porta-voz dessas populações e mesmo modificar essa situação?
Dridi - O cinema sozinho não pode fazer nada, mas a cultura em geral é uma arma. Quando vemos um filme do inglês Ken Loach, por exemplo, de quem realizei um documentário biográfico para a rede de TV franco-alemã Arte, nos sensibilizamos. Eu me interesso por pessoas com problemas. As pessoas que não têm problemas me aborrecem.
Folha - Depois de dois filmes tão específicos como "Bye Bye" e "Pigalle", não foi difícil encontrar produtores para seu novo filme?
Dridi - Não foi tão difícil, pois encontrei atores franceses muito conhecidos que queriam filmar comigo. Se esse filme não for bem nas bilheterias, será bem difícil financiar o próximo.
Mas não será um problema. Posso filmar com pouco dinheiro, com quase nada. O importante é ter um pouco de filme, uma câmera e pessoas que querem dizer alguma coisa.
A maior censura não é a econômica na produção, mas na distribuição do filme. Não é difícil fazer um filme, mas saber como e para quem ele será exibido.
Folha - Você parece bem mais influenciado pelo cinema neo-realista italiano, de Rossellini e De Sica, que pelo cinema francês...
Dridi - Em parte sim, mas o cinema francês, de Renoir e Grémillon, também me influenciou muito, assim como o novo cinema inglês e o cinema americano de Cassavetes e Scorsese. Mas apenas o Scorsese anterior às merdas que ele fez para Hollywood.
Minhas principais influências não vêm do cinema, mas daquilo que acontece na França e na vida cotidiana de pessoas que eu conheço. Sou mais influenciado por um passeio de metrô que por um filme francês.
Folha - Que tipo de público vê seus filmes?
Dridi - A população proveniente do Magreb (região norte da África que sofreu colonização francesa: Marrocos, Argélia e Tunísia) é de 4 milhões de pessoas. É quase 10% da população francesa. "Pigalle" é mais marginal, mas "Hors-Jeu" terá um público mais amplo, pois existe uma grande parcela da população francesa que quer se exprimir e assim existir.
Folha - Você não acha que seu filme "Pigalle" glamourizou a população marginal do bairro francês? A vida não é muito mais dura?
Dridi - "Pigalle" é uma ficção, não é um documentário sobre o bairro. A vida é, com certeza, muito mais dura que o cinema, embora o filme seja muito violento. Aliás, tem violência o bastante.

Filme: Bye Bye
Produção: França, 1995
Direção: Karim Dridi
Com: Sami Bouajila, Philippe Ambrosini, Ouassini Embarek Quando: Espaço Unibanco de Cinema -sala 5

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