São Paulo, sexta-feira, 29 de agosto de 1997
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Orquestra tem garra

IRINEU FRANCO PERPÉTUO
ESPECIAL PARA A FOLHA

A garra foi a principal qualidade demonstrada pela City of Birmingahm Symphony Orchestra em seu concerto de anteontem, no Cultura Artística.
Alçada por seu regente, Simon Rattle, a um nível de qualidade internacional, a orquestra interpretou o longo programa vienense de maneira bastante incisiva, embora não desprovida de pecados técnicos.
A primeira parte do programa foi dominada pela "Serenata em Si Bemol Maior K 361", de Mozart, conhecida como "Gran Partita", para 12 instrumentos de sopro (aos quais foi acrescido um contrafagote) e contrabaixo.
Com sete movimentos, é uma peça que levou a dimensões e sofisticação inusitadas a música escrita para um tipo de formação conhecida como "Harmonie", conjunto de sopros cuja principal função era prover música para eventos sociais da aristocracia.
Rattle fez uma leitura ligeira, acelerada, explorando os contrastes tímbricos, mas deixando espaço para o virtuosismo dos instrumentistas.
Mas seu "tour de force" foi mesmo a grandiosa "Sinfonia nº 9", de Bruckner, regida de cor, com marcações absolutamente claras e precisas.
É uma peça que se debate entre a dúvida do compositor sobre seu talento e a enorme certeza de sua devoção a Deus, ao qual ela é dedicada.
Embora barulhenta, a música aspira ao sublime, com pesadas reiterações nos metais, silêncios sugestivos, estruturas enormes e pobreza melódica. Dependendo do gosto de cada um, pode induzir tanto ao êxtase, quanto ao enfado.
Embora não tenha conseguido responder em todos os momentos às indicações cristalinas de Rattle, a orquestra contabilizou, nas cordas e nos metais, bem mais acertos que erros.

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