São Paulo, sexta-feira, 29 de agosto de 1997
Próximo Texto | Índice

Mandela faz ofensiva pela paz no Sudão

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O presidente da África do Sul, Nelson Mandela, aprofundou ontem a sua ofensiva para conseguir a pacificação do Sudão.
Ele reuniu-se na Cidade do Cabo com John Garang, líder do Exército de Liberação do Povo Sudanês, que enfrenta as tropas do governo de Cartum desde 1984.
Está marcada para este domingo uma nova reunião do presidente sul-africano, desta vez com os seus colegas do Sudão, Omar Hassan al Bachir, e de Uganda, Yoweri Museveni.
Ao visitar a África do Sul no início deste mês, Al Bachir acusou o governo de Museveni de apoiar militarmente os rebeldes de Garang, baseados entre a população cristã e animista do sul do país, região da fronteira com Uganda.
Segundo Mandela, a reunião de domingo vai tratar apenas das relações entre Sudão e Uganda, o que não comportaria a participação de Garang. Ainda assim, a agência de notícias "Efe" informou que o presidente sul-africano defendeu a participação do líder rebelde, no que poderia ser uma reunião entre todas as partes envolvidas no conflito.
Após o encontro com Mandela, Garang negou que fosse parte da reunião presidencial de domingo: "Separamos os aspectos da paz no Sudão e da reunião que terá lugar no domingo".
Também deve participar da reunião de depois de amanhã o presidente do Zimbábue, Robert Mugabe, na condição de dirigente da OUA (Organização da Unidade Africana).
O objetivo do encontro, segundo Mandela, é "facilitar os esforços do Igad (iniciais em inglês de Autoridade Intergovernamental de Desenvolvimento) para encontrar uma solução para o Sudão".
Composto por Uganda, Quênia, Etiópia e Eritréia, o Igad tenta encontrar uma solução para a guerra que opõe os rebeldes de Garang ao governo de inclinação muçulmana liderado por Al Bachir e Hasan Turabi, presidente do Parlamento sudanês, líder da Frente Nacional Islâmica e homem-forte do governo.
A rebelião começou em 1984, ano em que o governo tentou impor a legislação muçulmana em todo o país. Em 1991, o governo de Cartum adotou um novo código penal, baseado na lei islâmica, que dificultou as discussões de paz com os rebeldes do sul.
As negociações também são complicadas pelo fato de os partidários de Turabi ocuparem, e não quererem deixar, os principais postos da administração.
Frente militar
A reunião de Mandela com Garang coincidiu com a publicação pelo diário privado sudanês "Aluan" de acusações de um funcionário do governo de Cartum contra o Exército de Libertação do Povo Sudanês.
Segundo o comissário da Província de Dilling, Abdel-Jabar Hussein, rebeldes mataram 4 pessoas e sequestraram 27 num ataque contra a cidade de Majda, no centro do país. Majda é uma das cidades da "paz", nas quais as Forças Armadas não agem, afirmou ainda Hussein.
Outro diário sudanês, o "Al Anbaa", acusou especialistas israelenses de treinar forças rebeldes baseadas na Eritréia, bem como as Forças Armadas deste país.
Segundo integrantes do governo do Sudão ouvidos pela agência "Efe", Cartum teme uma invasão de seu território por tropas da vizinha Eritréia.
A Eritréia conseguiu sua independência da Etiópia em 1993. Antes disso, havia sido colônia da Itália, que usou seu território para invadir a Etiópia, em 1896 e 1935.
História
Conhecido na Antiguidade como Núbia, o Sudão foi incorporado pelo mundo árabe no século 7º, ainda nos princípios da expansão islâmica. A influência árabe limitou-se ao norte do país. O sul, ainda que livre do controle externo, ficou sujeito a frequentes incursões de caçadores de escravos.
No início do século 19 passou para controle egípcio. Mais tarde, com o crescente poder britânico sobre o Cairo, entrou para a área de influência de Londres no período de maior expansão do Império Britânico.
Uma rebelião nacionalista liderada pelo líder religioso Mohamed Ahmed Ben Abdalla eclodiu em 1881. Quatro anos depois, conseguiu expulsar os britânicos.
Em 1898, as tropas de Londres retornaram ao país, que se tornou um condomínio anglo-egípcio. Já no século 20, em 1953, o Sudão conseguiu um regime de autonomia limitada para, três anos depois, alcançar a independência.

Próximo Texto: Estado em guerra
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.