São Paulo, sexta-feira, 29 de agosto de 1997
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Londres deve dialogar com Sinn Fein

PAULO HENRIQUE BRAGA
DE LONDRES

O governo do Reino Unido deve anunciar hoje a participação do Sinn Fein nas negociações de paz para a Irlanda do Norte, marcadas para começar em 15 de setembro.
A entrada do braço político do IRA (Exército Republicano Irlandês) no diálogo está condicionada à manutenção de um cessar-fogo pelo grupo terrorista.
A trégua foi declarada há seis semanas. O IRA luta pelo fim do domínio britânico na Irlanda do Norte e pela união com a República da Irlanda, de maioria católica.
A avaliação do governo britânico, a ser tornada pública hoje em Belfast pela ministra Mo Mowlam, é que não houve nenhum incidente grave durante o cessar-fogo.
Martin McGuinness, que será o representante do Sinn Fein nas negociações, afirmou ontem que um encontro entre o primeiro-ministro Tony Blair e o presidente do Sinn Fein, Gerry Adams, deve ocorrer nas próximas semanas.
Se ocorrer, a reunião inédita deve ser uma jogada arriscada para Blair. O primeiro-ministro deve ser criticado por setores unionistas, favoráveis à manutenção do domínio britânico sobre a Irlanda do Norte.
A facção pró-britânica acusa Adams de ter sido um dos comandantes do IRA e de estar por trás de atentados contra alvos britânicos.
O apoio ao premiê britânico pode ficar abalado se as negociações de paz fracassarem, como ocorreu no governo anterior.
Desarmamento
A questão mais delicada, que provocou o fracasso do diálogo durante o governo conservador, é o desarmamento do IRA.
Blair propõe que o desarmamento seja realizado gradualmente, durante as negociações. O governo de John Major exigia que o IRA entregasse todas as suas armas antes de ser admitido no diálogo.
A concessão ao Sinn Fein coloca em dúvida a ida dos grupos protestantes para a mesa de negociações sobre a Irlanda do Norte.
Dois partidos mais radicais, o Unionista do Reino Unido e o Unionista Democrático, já anunciaram que não tomarão parte no diálogo. O principal grupo protestante, o Partido Unionista do Ulster, ainda não disse se vai participar.
A intenção de Blair é obter uma solução definitiva para o problema até maio do ano que vem. O premiê já disse até que concorda com a separação da Irlanda do Norte, desde que isso seja decidido nas turnas.
A hipótese, porém, é improvável. Os católicos -nem todos separatistas- são cerca de 40% da população.

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