São Paulo, sábado, 30 de agosto de 1997
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CNBB afirma que não 'defende desunião'

LUIS HENRIQUE AMARAL
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

O presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), d. Lucas Moreira Neves, rebateu ontem críticas do presidente Fernando Henrique Cardoso ao "3º Grito dos Excluídos".
O protesto será promovido pela CNBB com apoio do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), da CUT (Central Única dos Trabalhadores) e da Central de Movimentos Populares, no dia 7 de setembro.
As quatro entidades esperam reunir mais de 100 mil pessoas no santuário de Aparecida (SP). Durante o ato, FHC deve receber um "cartão vermelho" dos presentes.
Anteontem, o porta-voz da Presidência, Sergio Amaral, transmitiu um "apelo" de FHC para que "o MST, a CUT e a CNBB não transformem o 7 de setembro em um dia de desunião".
Ainda segundo o porta-voz, o presidente Fernando Henrique "considera que o 7 de setembro não é o melhor dia para fazer um protesto desse tipo".
Em resposta, d. Lucas afirmou ontem que a igreja só apóia o "Grito dos Excluídos" por que "ele não tem caráter ideológico".
Segundo o cardeal, haverá "momentos de oração" durante o protesto. "A igreja nunca defende a desunião", afirmou.
Ainda segundo d. Lucas, os bispos que não quiserem realizar o "grito" no 7 de setembro, poderão escolher outro dia.
Cartão vermelho
Segundo a Folha apurou, a cúpula da CNBB não queria que o "grito" fosse caracterizado como um ato anti-FHC.
Em entrevista na quarta-feira, o coordenador da Pastoral Social da entidade, d. Demétrio Valentini, afirmou que enviaria uma carta a FHC "para que ele saiba que o protesto não é contra seu governo, mas sim um alerta para a igreja e para a sociedade sobre o problema dos excluídos sociais".
Apesar de negar o caráter de protesto, a referência ao presidente está no roteiro da própria organização do evento, que foi obtido pela Folha. Ele foi preparado pela secretaria da Pastoral Social e pelas entidades que participam do ato.
Segundo o roteiro, no encerramento do protesto os participantes vão levantar "cartões vermelhos" para temas como "fome", "corrupção" e "política econômica do governo".
Em seguida, devem receber o "cartão" (que significa expulsão de campo de futebol) o "projeto neoliberal", a "dívida externa", as "privatizações" e "FHC".
No ano passado, o "grito", organizado apenas pela CNBB, reuniu 70 mil pessoas.
O "Grito dos Excluídos" vai começar às 8h com a chegada de duas marchas do MST. Uma com militantes de São Paulo, e a outra, do Rio. Estarão presentes os líderes do MST José Rainha Jr. e João Pedro Stedile, além do presidente da CUT, Vicente Paulo da Silva.
Missa
Em seguida, será realizada uma missa celebrada pelo cardeal de Aparecida, d. Aloísio Lorscheider. Também participarão d. Demétrio Valentini, o presidente da Comissão Pastoral da Terra, d. Tomás Balduíno, e d. Angélico Bernardino, da Pastoral Operária.
O tema da manifestação será "Queremos Justiça e Dignidade". Como o "Grito dos Excluídos" faz parte do calendário de celebrações pastorais da CNBB, ele será citado em todas as missas do próximo dia 7, que será um domingo.
Haverá também protestos contra a condenação de José Rainha e contra a decisão da Justiça de abrandar a acusação contra os assassinos do índio Galdino de Jesus.

Colaborou a Sucursal de Brasília

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