São Paulo, sábado, 30 de agosto de 1997
Próximo Texto | Índice

Terror ataca civis e mata 98 na Argélia

MARTA AVANCINI
DE PARIS

Um ataque terrorista no norte da Argélia matou pelo menos 98 pessoas e deixou 120 feridas, durante a madrugada de ontem. De acordo com moradores de Sidi Rais, o número de mortos é maior que o divulgado oficialmente e chegaria a 300. As vítimas são, na maioria, crianças e mulheres.
O ataque ocorreu na cidade de Sidi Rais, a 25 quilômetros de Argel, capital do país. É considerado o mais violento desde 1992, quando a FIS (Frente Islâmica de Salvação) foi colocada na clandestinidade, dando início a uma guerra civil e à onda de ataques terroristas.
Apesar de não ter sido reivindicado, existem fortes indícios de que ele teria sido praticado por fundamentalistas islâmicos membros do GIA (Grupo Islâmico Armado), ligado à FIS.
A ação seguiu o padrão dos ataques terroristas do GIA, que tem por característica agir em grupo e atacar cidades pequenas. Mas, em comunicado oficial, os dirigentes do FIS condenaram o massacre e rejeitaram a autoria. O governo anunciou que pretende intensificar a luta contra o terrorismo sem, no entanto, detalhar como vai agir.
A intensidade e a frequência dos ataques terroristas está sendo analisada como o fracasso da política de combate ao terrorismo do presidente Liamine Zeroual.
Há dez dias ele anunciou, em pronunciamento na TV, "o fim iminente do terrorismo".
Desde as eleições legislativas de junho, havia crescido a expectativa de um entendimento entre governo e oposição, que levaria à pacificação do país.
O secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), o ganense Kofi Annan, lamentou a "perda incessante" de vidas humanas.
Desde o início da semana, quando a onda terrorismo se intensificou, estima-se que mais de 300 pessoas tenham sido assassinadas, entre as quais duas francesas. Os ataques têm sido quase diários. Desde junho, o balanço chega a 1.500 mortos.
As testemunhas afirmaram que o grupo chegou à cidade por volta de 1h (hora local) e começou a invadir as casas.
As vítimas foram levadas à força para as ruas e degoladas, na maioria. Parte teria sido morta a tiros. Imagens exibidas na TV francesa ontem mostraram casas e carros queimados. Cabeças dos mortos foram penduradas em frente às casas destruídas.
O clima, segundo depoimentos de jornalistas argelinos, era de medo entre os moradores de Sidi Rais, e muitos entre os mil habitantes da cidade teriam afirmado querer deixar o local.
Sidi Rais fica localizada ao pé das montanhas onde os membros do GIA se escondem. Devido à frequência com que a região é atacada, ela é conhecida como "triângulo do terror".
Outro ataque atingiu Oran, onde fica o principal porto argelino. Um carro-bomba explodiu, deixando dois mortos e dez feridos.

Próximo Texto: País já 'seduziu' esquerdistas
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.