São Paulo, sábado, 30 de agosto de 1997
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País já 'seduziu' esquerdistas

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

A Argélia dos atentados dos grupos islâmicos pouco tem a ver com o país que entre os anos 50 e 60 povoou o imaginário brasileiro.
O território argelino estava então envolvido numa guerra de independência, que entre 1954 e 1962 provocou a morte de 24 mil militares franceses e 158 mil combatentes da FLN (Frente de Libertação Nacional).
O colonialismo possuía um projeto arcaico de agregação de territórios ao umbigo metropolitano.
As esquerdas brasileiras sentiam-se solidárias com uma guerra anticolonial que espelhava, em sua tentativa de ruptura de um vínculo explícito e institucionalizado de dominação, outras formas de "libertação" que então prevaleciam como modelos oníricos.
O raciocínio era simples: se a FNL levar a melhor, também ganhará legitimidade todo processo, mesmo pacífico, que leve o Terceiro Mundo a se libertar das supostas amarras do imperialismo, na época visto como fator de geração e reprodução da pobreza.
O establishment conservador focalizava a Argélia sob o ângulo de um território abrasado durante a Guerra Fria. Caso a França a perdesse, quem ganharia seria a URSS e não os nacionalistas argelinos.
Foi o raciocínio aberta e brilhantemente enunciado por políticos como o dirigente udenista Carlos Lacerda. Foi ele quem patrocinou o exílio, no Brasil, de um dos líderes da tentativa de golpe articulado contra o presidente Charles de Gaulle, após a assinatura dos acordos de paz de Evian (1962).
O fato é que, após a independência argelina, Ben Bella ou Houari Boumediene se incorporaram com familiaridade à agenda de nomes próprios recorrentes entre grupos adversários de brasileiros. Representavam ou a esperança de um socialismo emergente, ou um perigo geopolítico a combater.
Essa imagem se radicalizou em 1970. Foi para Argel que os grupos extremistas brasileiros pediram que fossem despachados prisioneiros políticos, libertados em troca do embaixador alemão.

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